sexta-feira, 18 de julho de 2008

COMO O MITO DA CAVERNA TEM HAVER COM NOSSA REALIDADE?

Referência extraída de : "A República" de Platão. 6.ed. Ed. Atena, 1956, p.287-291

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Por Adriano Goulart

O diálogo proposto por Platão, sugerindo uma reflexão perpassada entre a figura de Sócrates e Glauco, no qual há uma manifestação de um universo novo, distante daquele que já é conhecido. Esse universo, para ser atingindo sugere a ação daquele que o aspira, no sentido de dispor-se a transformar-se por completo, com emprego inclusive de dor física, moral e espiritual e que, quanto mais se aproxima, mais reluzente e incompreensível se apresenta e nos posiciona como parcela mínima de um todo. Dessa forma, incita-nos ao questionamento da proximidade que essa metáfora tem com a nossa realidade.

Tal história é compreendida por muitos como a metáfora do conhecimento humano, que parte de apenas uma visualização de representações visíveis mas simbólicas daquilo que não se vê (o contexto interior da caverna), para o conhecimento concreto, experienciado e sobretudo, anexado ao ser que a compreende (a paisagem externa a da caverna).

A metáfora também é percebida como processual e cíclica, uma vez que a lógica da descoberta se encaminha por etapas. Não sendo o ser capaz de atingir uma posição, sem antes galgar a anterior. O indivíduo que atinge uma etapa superior , volta e meia vê-se retornando ao seu ponto de origem e questionado sobre sua nova visão de universo, cria uma auto-reflexão sobre o seu próprio processo.

Nossa realidade confrontada com tal proposta apresenta diversas similaridades, sobretudo com o caráter contínuo e contraditório da busca da inteligência excelente. Saber esse que mesmo inatingível no todo, mas que se faz necessário na sua busca, afim do alcance da luz da ciência, que nos retira servidão do não conhecimento sobre as coisas.

Outra aproximação que é possível sobre nossa realidade e o mito da caverna de Platão, é apresentada nos estágios com que os personagens que figuram a estória e suas ações podem ser completamente associados ao nosso contexto. Vislumbra-se uma nova realidade a partir simplesmente do reflexo das luzes na parede da caverna. Entretanto, uma vez iniciada a trajetória de mudança, uma história de sofrimento é apresentada e seu finalizar embora nobre, é quase sempre questionado.

As inquietações humanas também se fazem aparentes na estória, sendo que os personagens , mesmo que num estágio mais superior, não têm compreensão do todo e muitas vezes, vêem-se as cegas para o próximo momento.

Enfim, é possível a análise concreta do mito da caverna com o foco sobre nosso contexto. Embora tenha sido escrito numa antiguidade clássica, tal reflexão corresponde intrínseca e extrínsecamente à condição humana, no que tange a descoberta do saber, e sobretudo , na busca do atingir a inteligência real.