terça-feira, 29 de setembro de 2009

Biblioteca sem livros - Será este o nosso futuro próximo? (Reflexão sobre artigo)

Pensar no desaparecimento do livro sendo substituido por novas tecnologias me parece muito pouco provável. Nossa experiência em "novidades" nos mostra que isso em geral não tem acontecido. Ex: O rádio não acabou por causa da televisão. A mesma também não sumiu quando veio a internet e por aí vai..Porém se olharmos atententamente, de fato tais veículos estão mudando em concepção, formato e conceito. Assim, é tarefa dos profissionais da área perceberem os novos rumos e suas tendências.
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As novas tecnologias por mais reluzentes que sejam, já vem amparadas numa lógica volátil. Mal são colocadas no mercado e já estão ultrapassadas. A maior parte dos suportes que vieram após da idéia do livro fizeram até "barulho" em termos de utilidade mas não conseguiram suportar nem sequer algumas décadas (fitas, cds, disquetes, dvds e por aí vai)... Já os livros estão mais que testados quanto ao aspecto de permanencia, durabilidade e relevância.
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Outra reflexão é o fato de que digitalizar um acervo embora seja muito interessante e sua proposta cheia de discursos democráticos e altruístas, ainda demanda de um investimento enorme, pessoal especializado extra e permanente e que a maioria das instituições não estão dispostas a pagar nesse momento. Por isso, sua viabilidade é questionável para um futuro próximo.
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Todas as vezes que leio essa perspectiva considerada por muitos quase que apocalípitca para nós bibliotecários, o primeiro pensamento que tenho é de como nós, profissionais da informação reagimos diante desse contexto. Será que o fato de pessoas substituírem as bibliotecas por novas tecnologias interfere na necessidade de um profissional para ajudar? Será que acaba com a mediação humana na busca por informação e conhecimento? Eu acredito que não.
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Acredito que o exercício de reflexão que devemos fazer é : Quais profissionais queremos ser daqui a 10 ou 20 anos? Isso nós devemos nos preocupar. O que nós faremos? Em qual ambito profissional e social nos colocaremos? Porque a biblioteca tal como ela é tradicionalmente de fato não mais existirá. Alías, a maior parte daquilo que conhecemos como espaços profissionais e suas relações também não. Contabilistas, Jornalistas, Administradores, Economistas e quase todas as profissões também tem essas preocupações. A mudança é natural e inevitável. As novas gerações inclusive dão sinais claros de que terão paradigmas e práticas profissionais bem diferentes daquilo que conhecemos agora.
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Nossos colegas de profissão que atuam não muito antes da década de 90 podem nos ajudar nisso. O que dizer dos catálogos físicos, dos ficharios de autor e assuntos...?E por aí vai. O fato de praticamente não existirem mais tais ferramentas não configurou que a presença de um bibliotecário responsável não fosse mais necessária. Por outro lado exigiu a necessidade constante por atualização e integração com outras áreas de conhecimento.
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No meu entender nosso futuro passa por aí. A biblioteca terá livros sim. Já nós bibliotecários, não poderemos ter como referência esse suporte. Como provocação brinco com o título do artigo: "Bibliotecários, sem livros - Será este o nosso futuro próximo?"
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Adriano Goulart - Bibliotecário
Blog: http://adrianoagr.blogspot.com
Twitter: www.twitter.com/adrianoagr

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Uma biblioteca sem livros - Será este o nosso futuro próximo?
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Com 144 anos de tradição, uma instituição de ensino da região de Boston, EUA, a Cushing Academy, decidiu encerrar as actividades da sua velha biblioteca.
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Parece muito radical numa visão conservadora, mas a Cushing Academy está a desfazer-se de todo o seu acervo bibliográfico com mais de 20 mil livros impressos, para dar lugar a uma biblioteca considerada dentro dos padrões do século XXI. Metade desses livros já foram doados, como romances, poesias, biografias, etc.
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Nas palavras do director da instituição, James Tracy, o suporte em que se baseia um livro está desfasado, e por isso tomou esta decisão com o objectivo de fazer um profundo upgrade tecnológico.
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No lugar das estantes de livros, o intuito é construir uma biblioteca virtual onde os estudantes poderão utilizar e-books, laptops e ecrãs com projecção de conteúdos da internet. No lugar do balcão de referência, haverá uma pequena cantina e uma máquina de capuccino de US$ 12.000.
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É caso para perguntar, será este o futuro próximo das bibliotecas? Irão os livros em papel desaparecer da face do nosso planeta? O que é certo é que a tecnologia avança, diariamente, a um ritmo alucinante. Agora, outra questão que se coloca é a seguinte: onde irão parar todos os livros que forem descartados das bibliotecas? Enfim...
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Esta notícia foi publicada no jornal on-line The Boston Globe, que pode consultar aqui.
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Fonte: http://internetparatodos.blogs.sapo.pt/205351.html
Acesso em: 27 set. 2009

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Você já fez seu para casa? (Por Adriano Goulart)

O dia começa e Fernanda inicia sua pesada rotina. Estudos, trabalho, cuidar da saúde, da beleza, família, amigos, relacionamentos, compras, transportes, ufa!!!.. Tudo que a maioria das pessoas passa todos os dias. Não demora muito e Fernanda se vê às claras com tudo de errado e absurdo e corrupto que acontece na sociedade e refletindo, sofre com o fato dela sozinha não conseguir mudar muita coisa. O que fazer então?
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Encontramos formas pela ação representativa das pessoas, de nos organizarmos e com isso, buscarmos a solução para as dificuldades que aparecem pelo caminho. A forma utilizada para haver essa discussão e organização chama-se política. E ela funciona muito bem se for feita por pessoas que realmente procuram estar a serviço de seus representados e entendam o sentido do fazer política.
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Pois bem, informado o assunto principal desse artigo e diante dessa reflexão iniciada proponho a seguinte reflexão: você já fez seu “para casa”? Por que se não fez ainda dá tempo antes de chegar às próximas eleições. Esse é o tempo em que temos a oportunidade de escolher devidamente nossos representantes na sociedade por um período específico (e que não é curto). Nesse período muita coisa pode mudar. Esses representantes, os políticos, deverão agir em nosso favor no sentido de facilitar o nosso dia-a-dia com ações públicas governamentais.
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Quando se faz uma boa escolha, a ação de nossos representantes tende a ser muito próxima daquilo que desejaríamos fazer se nós mesmos tivéssemos autonomia para agir. Como exemplo, teríamos estradas e ruas bem pavimentadas e devidamente arrumadas quando tivessem problemas, nossas escolas teriam profissionais valorizados e boa estrutura para acolher a comunidade e portanto, oportunidade de boa educação pública para todos. Enfim, tantas outras formas de nosso cotidiano ser melhor. Mas será que é isso que acontece?
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O governo (através dos políticos) divide com a sociedade civil (nós) responsabilidades por várias coisas. E deveria ser prioritária por parte desses gestores melhor atenção e atendimento de todas as pessoas. Nem sempre isso acontece. Já para nós que definimos quem serão os representantes, o papel de escolher, fiscalizar e sobretudo cobrar por boas gestões nos parece bastante razoável já que é para os nossos interesses que os governantes estão atuando. Então eis aí o nosso “para casa”: escolher, fiscalizar e cobrar daqueles que nos representam.
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Quando estamos na escola e falamos sobre “para casa”, lembramos que isso nada mais é do que um exercício daquilo que se aprendeu. Uma melhora daquilo que já se fez . Portanto, para um “para casa” ser bem feito precisamos já ter compreendido ou nos informado de boa parte da matéria. É isso que vai nos garantir que o trabalha seja feito de forma correta.
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Assim também acontece com o “para casa” que eu proponho agora. Para escolher bem, fiscalizar e cobrar daqueles que nos representam temos que compreender exatamente qual a função exata de cada um desses nossos representantes. Você pesquisou sobre isso?
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Por exemplo: a próxima eleição no Brasil será em 2010. Serão escolhidos os futuros deputados estaduais e federais, governadores, senadores e o presidente. Quais as funções de cada um desses cargos? Já parou para pensar? Será que só os presidentes e os governadores é que tem importância? Porque às vezes a impressão que passa é essa. Não acha que já é hora de começar a saber sobre isso?
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Os eleitores se preocupam muito mais com os votos e atenção dispensadas a esses candidatos do chamado poder executivo (presidente, governadores e prefeitos) do que com os outros candidatos do poder legislativo (deputados, senadores e vereadores). Perceba que a cada eleição é mais fácil saber de gente que anulou seu voto para deputados, senadores, etc.. do que para governadores, prefeitos ou o presidente. E nesse raciocínio, nosso “para casa diário” já começa a ser feito de forma equivocada. Se cada cargo político tem uma função específica, então eu não deveria me preocupar somente com os candidatos do executivo e ignorar os outros. Aliás, ignorar nossa opinião é o que muitos desses nossos representantes do legislativo fazem depois que houve a eleição. Não faz sentido eu votar em um candidato para governador ou presidente e evitar ou não me preocupar sobre aqueles que procuram ser os próximos deputados, vereadores e senadores. As funções se complementam em responsabilidades no Estado democrático.
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Para ajudar nesse para-casa gostaria de sugerir algumas dicas:
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1 – Se você já votou na última eleição, o ideal é que você tenha anotado e guardado o nome do seu candidato mesmo depois das eleições. Lembre-se que “país que não tem memória está fadado a cometer os mesmos erros do passado”. E isso está diretamente relacionado aos seus cidadãos. Depende da gente. Mas se não anotou o nome é hora de fazer um esforço e tentar lembrar quais os nomes deles e procurar informações sobre o que eles têm feito para te representar. A lembrança do nome do candidato e a observação atenta do mandato dele são fundamentais para você fazer uma boa escolha no próximo processo eleitoral.
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Existem várias formas de você fiscalizar. Ler jornais ou assisti-los na televisão e ficar atento aos nomes de políticos que aparecem por lá é uma boa opção. Procure saber se estão falando coisas boas ou ruins desse político. Se aparece alguma informação nesse jornal sobre o seu representante ou que você deseja votar.
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Outra forma de fiscalizar é pela internet. É fácil! Procure pelo nome do político que você deseja nos sites de busca e veja o que aparece por lá. Aparecerão com certeza diversos eventos que te ajudarão a avaliar se o político está fazendo ou não um bom mandato.
Cabe aqui outra lembrança de que a maioria dos políticos que estão no mandado atualmente procura se reeleger ou se candidatar a outro cargo em cada uma das eleições. Então se antecipe a ele. Não espere ele te procurar. Procure-o antes. Deixe-o perceber que você está de olho. Quando o político sabe que o estão observando, pensa duas vezes no que faz.
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Após a observação do mandato do seu representante de acordo com os seus princípios e valores, saiba que se você não estiver satisfeito com o que vê, há formas de você protestar e reclamar de tudo isso. Pense: do mesmo jeito que a maioria dos candidatos lhe procura cheio de sorrisos durante a eleição para pedir o seu voto, você também pode e deve procurá-los durante todo o mandato dele? Ele tem a obrigação de lhe acolher bem para ouvir as suas considerações. Afinal é por sua causa que ele está lá. Isso pode ser feito fisicamente ou mesmo por email enviado a assessoria dele. Manifeste-se! Para isso bastar você buscar os sites desses políticos específicos para obter as informações de contato direto.
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2 – Anote, escreva as suas considerações sobre o político que você está avaliando. Se ele passou no seu “teste de seriedade”, é porque ele está apto a se candidatar a outro mandato e possivelmente exercer bem sua função. Porém se o resultado for negativo, aprenda a falar “não” nas investidas futuras desses candidatos. Acredite, elas virão. Sabe como se faz isso? Não vote mais nesse candidato que teve uma trajetória incorreta. Pense assim: “ele já teve sua oportunidade”. Lembre-se que no momento que você está na cabine eleitoral, o seu voto é secreto e ninguém poderá saber em quem você votou. Mesmo que seu vizinho, melhor amigo, parente, namorado, namorada ou qualquer outra pessoa esteja com você na hora e deseje lhe “ajudar” no seu voto. Na hora a decisão é sua.
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Para finalizar, sugiro que comece agora a fazer esse “para casa”. Pois você pode perceber que eles, os futuros representantes já estão se mexendo e estão todos ouriçados. Já pensou como será bom se você e a Fernanda do início do texto participar dessa mudança de atitude? Garanto que com essa consciência no dia da eleição a certeza de que as coisas erradas que andam acontecendo vão diminuir e muito, porque aqueles que não nos representam adequadamente sentirão que o seu povo é maior do que a podridão que as os consome. A corrupção.
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Então... Vamos ao Para Casa?
Adriano Goulart
Bibliotecário

sábado, 19 de setembro de 2009

Perigo da divisão racial

30 de agosto de 2009
"Cada homem é uma raça." A frase, título de um livro do escritor moçambicano Mia Couto, sintetiza a ideia de que cada indivíduo tem sua história, seu repertório cultural, seus desejos, suas preferências pessoais e, é claro, uma aparência física própria que, no conjunto, fazem dele um ser único. Rótulos raciais são, portanto, arbitrários e injustos.
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Mia Couto, com sua concepção universalista da humanidade, é citado algumas vezes em Uma gota de sangue - História do pensamento racial (Contexto; 400 páginas; 49,90 reais), do sociólogo paulistano Demétrio Magnoli, recém-chegado às livrarias. Trata-se de uma dessas obras ambiciosas, raras no Brasil, que partem de um esforço de pesquisa histórica monumental para elucidar um tema da atualidade. Magnoli estava intrigado com o avanço das cotas para negros no Brasil e resolveu investigar a raiz dessas políticas afirmativas.
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O resultado é uma análise meticulosa da evolução do conceito racial no mundo. Descobre-se em Uma gota de sangue que as atuais políticas de cotas derivam dos mesmos pressupostos clássicos sobre raça que embasaram, num passado não tão distante, a segregação oficial de negros e outros grupos. A diferença é que, agora, esse velho pensamento assume o nome de multiculturalismo - a ideia de que uma nação é uma colcha de retalhos de grupos étnicos que formam um conjunto, mas não se misturam. É o racismo com nova pele.
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Magnoli descreve como duas visões de mundo opostas estiveram em constante tensão ao longo da história mundial recente. A primeira, derivada do tronco científico, crê numa espécie humana dividida em raças que se distinguem por ancestralidades diferentes, expressas em traços físicos e culturais. Os arautos dessa ideia podem ser chamados, genericamente, de racialistas.
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A segunda visão, antirracialista, nega a separação da humanidade em categorias inventadas e acredita no princípio da igualdade entre as pessoas. Representam a linha de pensamento antirracialista personalidades como o líder sul-africano Nelson Mandela e os americanos Frederick Douglas, abolicionista do século XIX, Martin Luther King, líder do movimento em defesa dos direitos civis. Entre os racialistas, figuram o presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt, o ditador alemão Adolf Hitler e o ativista negro americano Malcom X.
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Uma gota de sangue alerta para o que ocorre quando um estado se mete a catalogar a população segundo critérios raciais com o objetivo de, a partir deles, elaborar políticas públicas: pouco a pouco, os próprios cidadãos passam a acreditar naquela divisão e se veem obrigados a defender interesses de gueto. Isso cria conflitos políticos e rancor, inclusive nas situações em que as leis tentam beneficiar um grupo antes segregado. É o caso da Índia, país com o maior programa de cotas do mundo.
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O complexo sistema indiano de castas, tornado oficial pelo imperialismo inglês no século XIX, levou a que o governo daquele país, na década de 50, concedesse privilégios ao grupo dos intocáveis, ou dalits, e "outras classes retardatárias" - expressão contida no texto constitucional do país. Uma forma de tentar compensá-los das injustiças sofridas no passado. O resultado é que eles passaram a ser invejados. Em 2008, os membros da etnia gujar, do norte da Índia, entraram em choque com a polícia, em protestos que mataram quatro dezenas de pessoas, para pedir o próprio rebaixamento no sistema de castas. Sua reivindicação: também serem considerados inferiores o suficiente para ganhar cotas no serviço público e em universidades. Conseguiram.
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A ideia de que existem raças é um anacronismo que não condiz com a tradição brasileira e com as mudanças que vêm ocorrendo no mundo civilizado. Barack Obama, presidente do país que inventou a regra da gota única de sangue, define-se não como negro, mas como mestiço. E não deixa de ser curioso que, se fosse brasileiro, isso talvez o impedisse de ganhar uma bolsa no Itamaraty. O filósofo Kwame Anthony Appiah, professor de estudos afro-americanos da Universidade Princeton, nos Estados Unidos, colocou a questão nos seguintes termos, em entrevista a VEJA: "O estado brasileiro pode não ter ajudado os descendentes dos escravos a sair da pobreza, mas pelo menos jamais os discriminou ativamente, como ocorreu nos Estados Unidos. Isso faz uma grande diferença. Adotar políticas raciais, agora, significaria criar no Brasil uma minoria com privilégios. Em democracias, a existência de minorias com tratamento especial quase sempre resulta em encrenca. A pergunta que os brasileiros deveriam fazer é: isso vale a pena?" Uma gota de sangue, de Demétrio Magnoli, contribui para que se responda: não, não e não.
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íntegra na Revista Veja n.35 de setembro de 2009

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O Twitter e a preguiça de ler e escrever

O Twitter e a preguiça de ler e escrever (Por Adriano Goulart)
Diário de bordo número 1 de 02 de setembro de 2009 . Eis-me aqui, cidadão cibernético adrianoagr pronto para tecer minhas considerações sobre o mais novo fenômeno da internet, O twitter. Fenômeno esse que desde ontem também faço parte. Será que fiquei bobo? Torço para que não.
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Pois muito bem, ao criar uma conta nesse mecanismo sinto uma vontade enorme de compartilhar com todos uma reflexão acerca dessa nova rede que para ser bem prático, é para mim mais uma valiosa ferramenta baseada na premissa do sentimento de preguiça que as pessoas tem em ler e escrever. Ou seja, uma rede de blogs para preguiçosos. Entrei nela esperando sinceramente que eu esteja errado.
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Eu explico meu raciocínio: o Twitter é uma rede social, baseada em conceitos e princípios da chamada cibercultura que apresenta ferramentas tecnológicas em formato online e que permite as pessoas se conhecerem e passem a interagir e comunicar-se. Teve seu “boom” na internet há um ano aproximadamente nos Estados Unidos e a partir daí se espalhou pelo mundo. Os internautas não tiveram dificuldades de assimilar essa nova idéia.
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Nova idéia? Na verdade não é bem assim. Os conceitos e as ferramentas utilizadas por esse site já são conhecidos pela maior parte dos usuários já ha algum tempo. Orkut, Facebook, MySpace, blogs em geral já dispunham desses recursos e os colocavam à disposição de seus usuários com maior ou menor intensidade há pelo menos 5 anos.
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Assim, o que o Twitter apresenta como a grande novidade não é a possibilidade de interagir praticamente em tempo real com os outros usuários e nem possibilidades de inserção de informações sobre si ou sobre algo. A grande aposta dessa rede é inserir informações em uma interface parecida com a de um blog de mensagens com tamanho máximo de 140 caracteres no qual as pessoas possam comentar! Mas aprofundando o raciocínio nos parece que tal estratégia apresenta um retrocesso no avanço tecnológico e da internet que cada vez mais tem espaços ilimitados para fluxo e armazenamento de informações.
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A dinâmica desse espaço está justamente na premissa de disponibilizar aos usuários acessos rápidos com informações curtas e práticas sobre seu cotidiano. Curtas mesmo. Como se fossem no celular.
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Na prática, aparecem mini-diálogos ou multi-mini-diálogos sobre temas dos mais diversos, quase sempre de caráter subjetivo mas que expõem claramente o fazer e o pensar das pessoas. Ao acessar o seu perfil, a pergunta “What are you doing?” (O que você está fazendo?) se destaca. A partir daí , tudo que o usuário deve fazer é uma proposição. Apresentar o que se faz no momento, o que se lê, o que se informa e por aí vai...
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Nada de espetacular na proposta a não ser o chamado “marketing viral” que no meu entender se aplica também aos sites. E no caso do Twitter está dando um show. Um usuário conhece algo na internet (vídeo, som, idéia, etc) , se identifica com esse material por alguma razão e transmite a outro , que transmite a um terceiro e assim a novidade se espalha.
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No Brasil, o Twitter praticamente não era conhecido até que os atores globais (da Rede Globo de Televisão) e grandes empresas e instituições (principalmente as de comunicação), inspiradas no modelo americano aderiram a novidade. Uma moda, ou melhor, uma febre foi se criando a medida que artistas das emissoras foram anunciando seus perfis em plena rede nacional de tv. Assim como o orkut, que se popularizou no Brasil há cinco anos, as pessoas desejam estar no Twitter também, mesmo sem saber ao certo o que é. De resto, o sentido que se dá a ferramenta, a usabilidade e a interface e os contatos, a interação que se pretende fica secundária.
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É perfeitamente possível entender o porquê desse fenômeno acontecer. Ou pelo menos acredito que uma das razões para tal avanço dessa rede seja de que a maior parte das pessoas não procuram leitura na internet. Nem conhecimento ou informação consistente. Elas têm preguiça de um texto com mais de 3 parágrafos. De ler e escrever. Tudo que querem é reproduzir um comportamento de massa, também visível na internet através das redes sociais. Isso as conforta.
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Para quê ler um texto na fonte original, com páginas e mais páginas? Conteúdos difíceis e que demandam de certa habilidade anterior para compreender. Entender a dinâmica da internet? De forma alguma! Assim, um texto limitado ao número de caracteres que estou habituado no meu celular é mais que razoável.
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Claro que também há nesse espaço profissionais e pessoas que apresentam um melhor conteúdo e utilizam-se desse recurso com outro foco de disseminação de suas abordagens e pensamentos. Referenciam suas idéias e produção vinculando-as a outros ambientes da internet. Ou sugerem um debate frente a assuntos polêmicos ou reflexões de caráter mais global. Porém, a maioria quer apenas receber bugigangas informativas. O sentido de pertença a uma rede fala mais alto. Status cibernético, mesmo que de forma passiva e incapaz.
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O Twitter vai durar muito tempo? Acredito que não. Baseado na dinâmica da web 2.0, em que tecnologias e idéias as vezes nem tão novas, mas apenas remoldadas são apresentadas ao grande público numa velocidade vertiginosa e as antigas são simplesmente esquecidas, vejo no Twitter uma vida útil de 8 anos no máximo. O que para a internet já seria uma eternidade.
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Para terminar, ao tentar deixar de lado o preconceito que assumo ter diante da nova ferramenta, pois seu caráter prático oculta um propósito alienante aos seus usuários, reduzindo-os apenas em receptores de informação e produtores de uma minúscula parcela de conteúdo consistente, pois os diálogos banais são comuns nesse espaço, vejo em caráter comercial, institucional ou jornalistico algumas qualidades em inserir-se nessa rede. Os mecanismos de comunicação por exemplo, já perceberam esse filão. A maioria das emissoras brasileiras e seus respectivos ícones já tem seu perfil no Twitter. As Informações mastigadas e não críticas disponibilizadas aos seus usuários fazem parte desse cenário já há algum tempo.
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Já do ponto de vista pessoal talvez haja uma oportunidade mínima de interação e comunicação com os outros. E é esse o meu propósito nessa rede. Sem muitas aspirações, mas como bom navegador cibernético que procuro ser, uma oportunidade de conhecer as pessoas através dessa nova vida virtual.
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Por hora, fim da transmissão...