quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Por ocasião de minha saída de um lugar onde tanto gosto

Por ocasião da minha saída de um lugar onde tanto gosto...

"As razões de não ser. O que foi que eu pensei? Nas terriveis dificuldades; certamente, meiamente. Como ia poder me distanciar dali, daquele ermo jaibão, em enormes voltas e caminhadas, aventurando, aventurando? Acho que eu não tinha conciso medo dos perigos: o que eu descosturava era medo de errar - de ir cair na boca dos perigos por minha culpa. Hoje, sei: medo meditado - foi isto. Medo de errar. Sempre tive. Medo de errar é que é a minha paciência. Mal. O senhor fia? Pudesse tirar de si esse medo-de-errar, a gente estava salva." (Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Literatura de Cordel e o big brother

O educador Antônio Barreto, um dos maiores cordelistas da Bahia, acaba de retornar ao Brasil com os versos mais afiados que nunca depois da polêmica causada com o cordel "Caetano Veloso: um sujeito alfabetizado, deselegante e preconceituoso".

Desta vez o alvo é o anacrônico programa BBB-10 da TV Globo. Nesse novo cordel intitulado "Big Brother Brasil, um programa imbecil" ele não deixa pedra sobre pedra. São 25 demolidoras septilhas (estrofes de 7 versos):

[]


Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.


Há muito tempo não vejo
Um programa tão 'fuleiro'
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.


Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, 'zé-ninguém'
Um escravo da ilusão.


Em frente à televisão
Lá está toda a família
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme 'armadilha'.


Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.


O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial.


Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.


Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.


Respeite, Pedro Bienal
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Dar muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.


Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério – não banal.


Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.


A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os "heróis" protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.


Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já tornou-se imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.


Talvez haja objetivo
"professor", Pedro Bial
O que vocês tão querendo
É injetar o banal
Deseducando o Brasil
Nesse Big Brother vil
De lavagem cerebral.


Isso é um desserviço
Mal exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.


É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos "belos" na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.


Se a intenção da Globo
É de nos "emburrecer"
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que a exceção
(Amantes da educação)
Vai contestar a valer.


A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto a poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.


E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não deem sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.


E quando chegar ao fim
Desse Big Brother vil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.


E saiba, caro leitor
Que nós somos os culpados
Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados.


A loja do BBB
Vendendo só porcaria
Enganando muita gente
Que logo se contagia
Com tanta futilidade
Um mar de vulgaridade
Que nunca terá valia.


Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.


Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
e vamos ficar calados
diante de enganadores?


Barreto termina assim
Alertando ao Bial:
Reveja logo esse equívoco
Reaja à força do mal…
Eleve o seu coração
Tomando uma decisão
Ou então: siga, animal…


FIM

Salvador, 16 de janeiro de 2010.


* * *

Antonio Barreto nasceu nas caatingas do sertão baiano, Santa Bárbara, na Bahia.
É autor de um dos mais recentes e estrondosos sucessos da Internet, o cordel
Caetano Veloso: um sujeito alfabetizado, deselegante e preconceituoso.
Professor, poeta e cordelista. Amante da cultura popular, dos livros, da natureza, da poesia e das pessoas que vieram ao Planeta Azul para evoluir espiritualmente.
Graduado em Letras Vernáculas e pós graduado em Psicopedagogia e Literatura Brasileira.
Seu terceiro livro de poemas, Flores de Umburana, foi publicado em dezembro de 2006 pelo Selo Letras da Bahia.
Possui incontáveis trabalhos em jornais, revistas e antologias, com mais de 100 folhetos de cordel publicados sobre temas ligados à Educação, problemas sociais, futebol, humor e pesquisa, além de vários títulos ainda inéditos.
Antonio Barreto também compõe músicas na temática regional: toadas, xotes e baiões.


O cordel "Big Brother Brasil, um programa imbecil" é imperdível e está completinho aqui, em primeira mão: http://cachacaaraci.wordpress.com/

 

2010 é um ano eleitoral. Espero que os eleitores brasileiros valorizem seus votos, pois o voto é a arma para acabar com a impunidade no país



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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O bibliotecário e a mediação

O bibliotecário e a mediação
 
Iniciativas comunitárias que apostam no poder libertador da leitura são louváveis, mas não eximem os governos de sua responsabilidade de criar uma rede articulada de bibliotecas
Ezequiel Theodoro da Silva
 
Ônibus biblioteca, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, visita a Praça Traveiro do Campo, Jardim Helena, em São Paulo
"Talvez nenhum lugar em qualquer comunidade seja tão amplamente democrático como a biblioteca pública. A única exigência para entrar é o interesse!" - Lady Bird Johnson

Por várias vezes, em diferentes lugares do Brasil e do exterior, afirmei que uma revolução qualitativa da leitura brasileira tem de contemplar, necessariamente, questões relacionadas com a existência de uma rede articulada de bibliotecas e pela ampliação pedagógica do trabalho dos bibliotecários.

Neste texto, retomo, reitero e amplifico esse posicionamento mesmo porque os governos continuamente cometem verdadeiros crimes para escamotear as necessidades de trabalho científico, tecnológico e técnico no âmbito da organização e disponibilizaçã o de acervos de leitura para as múltiplas comunidades existentes nas regiões brasileiras.
As duas pesquisas nacionais sobre hábitos de leitura do povo brasileiro, publicadas com o nome "Retratos da Leitura" (ver

Inexistentes ou anacrônicas
Tais "retratos", em verdade, apenas fazem redundar o óbvio no que se refere às bibliotecas: ou elas inexistem ou estão paradas no tempo ou ficaram apenas nas intenções, sem nunca terem sido organizadas e postas a funcionar condignamente. Em que pesem os cursos de biblioteconomia e de ciências da informação, a mostrar, de forma escancarada, que existe profissional graduado e habilitado para atuar na sociedade, a atitude das autoridades tem sido a de fuga ou de esquiva da responsabilidade, deixando que as comunidades "se virem" no que se refere à convivência com livros e outros suportes de escrita.

Recentemente, telefonou-me uma repórter de um jornal curitibano para perguntar o que eu achava de uma experiência de formação de uma biblioteca comunitária. Disse-me ela que os catadores de lixo da cidade tinham "catado" livros e revistas e fundado uma biblioteca para o segmento de catadores de lixo. Louvei a iniciativa, informei que os livros poderiam expandir os horizontes de mundo dos catadores de lixo etc., etc., mas, quando disse que era o governo que deveria organizar e manter as bibliotecas, a repórter entrou em parafuso, achando que não dera a devida importância à iniciativa grandiosa daquela comunidade.

Essa experiência com a "biblioteca catada" não é muito diferente de outras que conheço pelo Brasil, como borracharia- biblioteca, baú-biblioteca, peixaria-biblioteca , boteco-biblioteca, jumento-biblioteca etc., enaltecidas e espetacularizadas pela m� �dia como soluções absolutas para o problema da nossa vergonhosa situação nessa área. Numa análise mais fria e crítica e sem querer de maneira nenhuma desmerecer as iniciativas do borracheiro, do peixeiro e/ou do dono do jumento, o que vemos, de maneira reiterada, é a escamoteação dos governos, no passar dos anos, com aquilo que é mais do que claro, cristalino e evidente: que sem bibliotecas na real acepção da palavra e sem gente especializada, formada em biblioteconomia, para dinamizá-las profissionalmente, continuaremos incentivando os arremedos e, pior, curvando-nos à fuga de responsabilidade pelas esferas governamentais.

"Melhor isto do que nada", dirão as más línguas. E talvez a minha própria língua já tenha dito isto à luz das possibilidades libertárias dos processos de leitura em si: o fenômeno de que a leitura autônoma pode levar à emancipação das pessoas e gerar a consciência das necessidades. Esse processo pode ser mais bem conhecido através da leitura do livro O queijo e os vermes - o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido, de Carlo Ginzburg (Companhia das Letras, 1987). Entretanto, o crescimento do número de livros desses acervos comunitários, a diversificação dos suportes da leitura, a organização, preservação e recuperação das obras, a sofisticação dos serviços de apoio aos usuários, a seleção de livros de interesse da comunidade em seus segmentos (infantil, adulto, 3ª idade) impõem, necessariamente, a presença de serviços especializados para fazê-los. E daí a esperança de que o profissional bibliotecário possa ser
envolvido para cuidar dessas tarefas e encaminhar os trabalhos de maneira objetiva e embasada nos saberes sistematizados, oriundos da área de biblioteconomia.

Os estereótipos em torno da figura do bibliotecário são também escaramuças para se esquivar da responsabilidade de sua contratação para trabalhos em diferentes tipos de bibliotecas, principalmente as escolares e as comunitárias. De fato, ao longo da nossa história e sendo muito fortalecida após a década de 1960, foi construída a imagem do bibliotecário como um trabalhador insensível, normatizado e normativista, catalogador de livros, controlador do silêncio dos espaços, estafeta dos castigos escolares, que em muito contribuíram para a sua "dispensa" no momento de constituição e de desenvolvimento das bibliotecas.

A briga de Darcy Ribeiro
Recordo-me, por exemplo, das grandes escaramuças entre Darcy Ribeiro, trabalhando para o governo Brizola no Rio de Janeiro (1983-1987), e a classe dos bibliotecários, com aquele afirmando que estes nada tinham a contribuir com a educação pública e com os CIEPs então estruturados. Tal estereótipo, infelizmente, ainda está muito presente no imaginário de muitas autoridades brasileiras, mas convém perguntar a quem esse estereótipo está servindo realmente... No meu p onto de vista, ele também serve à política de esquiva que vem sendo adotada pelos governos em relação à implantação de bibliotecas municipais, escolares e comunitárias neste país. Quer dizer, em se tratando de bibliotecas, sempre se dá um jeitinho e dentro desse jeitinho o bibliotecário nunca está incluído!

Para não colocar o bibliotecário como "vítima" de uma história meio ao contrário, acredito ser também importante uma visada crítica para dentro dos cursos de biblioteconomia ou de ciências de informação, oferecidos por diferentes instituições de ensino superior. Com o fim das habilitações, são raros os cursos que desenvolvem uma base adequada de conhecimentos e práticas para atuação que não seja em centros de informações e/ou empresas. A realidade escolar e as realidades comunitárias não são refletidas e discutidas ou então são tangencialmente tratadas, fechando o círculo vicioso de que o governo não contrata bibliotec� �rios para as escolas e comunidades e, portanto, não existe por que tratá-las durante o período de formação básica. Daí que, quando da necessidade de profissionais para trabalhar nas bibliotecas escolares, ajeita-se, às carreiras, uma oficina rápida para que professores ou membros de uma comunidade
recebam dois pingos de biblioteconomia para "tomar conta da biblioteca".

Em recente visita que fiz a minha cidade natal, cruzei com a filha de um amigo que, sei, possui tão somente o diploma do ensino fundamental. Portanto, sem ensino médio e muito menos o superior. Depois dos apertos de mãos e dos abraços, perguntei o que ela vinha fazendo. Ela me disse que era a responsável pela biblioteca da faculdade local e me pedia, naquele instante, que eu enviasse os meus últimos livros porque os professores e alunos tinham muito interesse nos meus escritos.

Um navio à deriva
Ora, sem querer desmerecer a escolaridade dessa conhecida e sua de dicação à biblioteca, fiquei perguntando se uma biblioteca de ensino superior poderia ser responsavelmente organizada e dinamizada por uma pessoa tão jovem e com formação leiga ou muito precária. Vê-se, aqui, mais um episódio desta comédia tragicômica chamada "biblioteca brasileira". Sei, também, por exemplo, que falar para muitos prefeitos sobre a necessidade de contratação de bibliotecário é estar disposto a ouvir impropérios de volta.

Finalizando esta reflexão, creio que a melhor imagem da problemática das bibliotecas no Brasil seja a do filme E la nave va, de Federico Fellini. De fato, igual ao infindável problema da leitura no país, "haja paciência" para tanta contradição, para tanto descaso, para tanto cinismo. Se considerarmos uma biblioteca como um lugar para o qual constantemente nos dirigimos a fim de incrementar a nossa humanidade, então cabe indagar se a falta de humanidade em solo nacional, reiterada pela mídia todos os dias , não tem uma relação com a ausência e falta de bibliotecas em solo brasileiro.

Ezequiel Theodoro da Silva é professor colaborador voluntário junto à Faculdade de Educação da Unicamp. Foi Presidente da Associação de Leitura do Brasil (ALB) de 1982 a 1986 e de 2007 a 2008. Foi secretário municipal de Cultura, Esportes e Turismo e secretário municipal de Educação de Campinas na década de 1990.http://www.prolivro .org.br/ipl/ publier4. 0/texto.asp? id=48), mostram que 34% da população nunca foi a uma biblioteca; nas classes D e E, esse percentual sobe para 49%. Esses indicadores mostram a imensa distância que existe entre a casa do cidadão e os espaços formais onde se tem acesso à cultura escrita.

Fonte: Revista Educaç ão - Edição 153

Rodney Eloy
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Adriano Goulart - Bibliotecário
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Ebook sobre biblioteconomia

 

Adriano Goulart - Bibliotecário
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    O livro é:
    Planejamento Físico de Bibliotecas Universitárias. Brasília. PROBIB/MEC, 1993. 193p. Inclui relatório de pesquisa realizado pelo arquiteto José Galbinski e o cientista da informação Antonio Miranda, com a colaboração do arquiteto Frederico Flósculo sobre o estado da arte da construção de edifícios de bibliotecas universitárias no Brasil
     
    Faça o download do livro  neste link: http://www.cipedya. com/doc/152781