terça-feira, 18 de junho de 2013

Para registrar o meu pensamento sobre as manifestações do dia 17/06/2013. (Adriano Goulart)

Para registrar o meu pensamento sobre as manifestações. (Adriano Goulart)

Manifestações. Tem gente falando de tudo por aí. Coisas que me identifico e outras que não concordo tanto. No meio disso tudo, lembro de palavras que eu ouvi de uma professora minha da disciplina de história, da minha época de ensino fundamental,  chamada Ana Maria.

Ela dizia: "temos que aprender o seguinte : podemos discordar totalmente das posições uns dos outros e do modo como entendemos as coisas. Mas lembrem-se por toda sua vida, devemos garantir radicalmente o direito que temos de nos pronunciar. Todos nós." Quem passou pela ditadura militar não viveu isso . Hoje, em tempos de alienação extrema, do uso do poder absurdo e contraditório,  do alcance midiático das massas, conforta-me saber que as redes sociais desempenham um papel de quase uma ágora digital. Se as discussões são profundas, isso é outro tema.

Num dia em que marca minha vida pelo novo. Ou algo novo. Diferente. Dia em que boa parte das pessoas por aqui, contrárias aos movimentos, ou diretamente envolvidas esboçaram gritos de insatisfação, ironia, ou entendimentos complexos sobre os assuntos diversos de nossa sociedade. Para mim um dia político e apartidário. Todos exporam suas parcelas de culpa. Denunciaram seus tetos de vidro. Um dia que me sinto bem. Por poder ver que isso aconteceu em escala mínima ainda, mas aconteceu.

Vejo que o entendimento sobre as mudanças efetivas ainda é primário. E principalmente atrasado. Que sofremos com a ausência de líderes nesses movimentos e em quase tudo na sociedade que traz alguma referência de representação é falida ou questionada. Somos ainda bebês chorões, mas já com a consciência de que o sofrimento existe e é preciso combatê-lo. Que as causas e ideais são difusos e em boa parte as iniciativas são relativas e pontuais, ou associadas a minorias específicas. Mesmo assim vale a pena.  Não é exatamente isso que buscamos na aplicabilidade da teoria democrática? Lugar para as minorias, ainda que contrárias a valores pessoais que mesmo eu os tenho? Lugar de fala e representação para as massas, com o cuidado da postura totalitária não tomar força?

É momento das forças se manifestarem sim. Daquelas que valem a pena, que se preocupam com o coletivo em detrimento de posses e doutrinas individualistas e mercadológicas. Que seja dada voz ao oprimido e ao religioso. A mulher, ao gay e ao negro. Que seja dada voz a minha pessoa. E se quem grita agora não me representar, que me seja nos dada a honra de cobrar seus feitos. Sua fala uma hora ou outra será comparada a mediocridade de suas ideias. Vaidade das vaidades. Mas que seja dada a oportunidade do brado.

A verdade é que não sabemos de onde vem os movimentos e nem onde isso tudo vai chegar. Traços da contemporaneidade. Se temos uma versão brasileira da primavera árabe ou se mero modismo ou comodismo da classe média, aproveitando da situação sóciopolítica para garantir seus privilégios. Se são efetivamente democratas, aristocratas ou totais anarquistas. Ainda não dá para saber. Pelo menos eu ainda não sei. E confesso que em dúvida, me sinto mais seguro em acertar no que vem por aí. Melhor que se tivesse a certeza dos idiotas e de uma unanimidade burra. Para um lado ou para o outro.  Excesso ou retrocesso. Eu quero acertar.

Amanhã o vento muda e tudo pode desaparecer da mesma forma que emergiu. Mas o certo é que eu ainda não havia visto acontecer como aconteceu. E isso me faz bem. É novo. Status: Aprendendo.