Human Bodies – Adriano Goulart
Ontem estive na exposição “Human
Bodies”. Para quem não conhece, após o texto coloco a descrição do que é esse
evento.
Queria registrar o impacto que
foi para mim a oportunidade de ver o trabalho minucioso feito pelos
especialistas de preparar o corpo humano, nu e cru, para exibição ao grande
público, em grande parte, leigos como eu, mas que acima de tudo, podem refletir
sobre algumas coisas. Eis as minhas constatações:
Você já se olhou no espelho e
notou algo que não era seu do outro lado do espelho, mas paradoxalmente te
acompanhava em toda sua existência? Um ser estranho e completamente associado a
você? Horroroso e fascinante ao mesmo tempo? Eu me senti assim quando olhei
para a primeira obra-prima exposta na exibição. Chamo de obra-prima porque não há outra
palavra com as quais o significado se adeque melhor. Obra-prima do Criador. De
um artista. O maior.
Nós somos uma máquina. Esplêndida!
Fascinante! Absurdamente complexa. Obra de uma engenharia divina. Sem
precedentes. Eram os deuses astronautas? Não sei. Mas no quesito carinho e
detalhe, o Criador abusou! Eu olhava
aquele corpo aberto, dessecado. E ele olhava para mim. Não tenho ideia de
quanto tempo eu olhei fixamente para o que estava em minha frente. Mais de 10
minutos provavelmente. O que eu descobria ali era novo. Porque um livro bem
ilustrado, todas as aulas de biologia durante o ensino fundamental e médio que
eu tive, documentários e por aí vai, não são capazes nem de perto de causar o
impacto do que é se ver aberto e real bem a nossa frente.
Os produtores do evento foram
perfeitos. Acertaram em suas decisões. Porque já na antessala, a primeira
bancada com órgãos humanos logo no início da exposição, nos apresentam os pés.
Só o osso. Para a gente não tropeçar com as emoções durante o processo. E quão impactante foi conhecer de perto a anatomia do pé. Não
conseguia parar de olhar. Não é estranho? Fiquei igual menino, olhando em baixo
da escultura, da obra-prima, repito, que é um calcanhar. Virei um matemático.
Como pode um osso daquele tamanho, sustentar o peso de um corpo de 80, 90 ou
mais de 100 quilos? O ângulo mais perfeito que já vi. Harmonioso. Competente.
Eu fiquei chocado. De verdade.
Logo após vieram as mãos.
Viradas, com a palma para cima. Só elas. Espetaculares! Impecáveis. Os
ligamentos, a forma com que ossos, músculos, artérias, veias e nervos, ligamentos,
tendões, pele, se ligam num espaço tão pequeno é comovente. Dignas de lágrimas
pela simples possibilidade daquilo acontecer. Aplausos sinceros.
Confesso que a próxima sala, com
os membros inferiores e superiores me causaram dor. A complexidade dos músculos
com os cortes precisos nos ossos me assustou um pouco. O joelho e o famoso
menisco são mesmo muito delicados. O mecanismo da alavanca no cotovelo também é
um caso a parte. Especiais.
Depois vieram os aparelhos
digestivos, os órgãos reprodutivos, aparelho pulmonar, muscular, cérebro,
órgãos da face, cada um com uma riqueza de detalhes que valem a pena a
intensidade do momento e um pouco de embrulho no estômago. O meu. Mas nenhum
outro sistema, surpreendeu mais que o
circulatório.
Os cientistas conseguiram
reproduzir todo o sistema. Todas as ramificações. Das grandes artérias até o
minúsculo vaso. Um choque. Temos outro ser dentro de nós. Absurdo. Magnifico! “Aqui
tem sangue nas veias!”, diriam as pessoas. E tem mesmo. Muito. Muito mesmo.
Momentaneamente havia me
esquecido daquilo. Transportei-me para uma reflexão profunda. Transcendente.
Viajei. O que era aquilo que estava vivenciando? Aquele ser vermelho que está
dentro da gente, bombeado pelo coração e que me trouxe algo humanamente divino.
Fantástico. Divinamente humano. Material e especializado. Para que estamos
aqui? Para onde vamos? Grandes e sinceros dilemas da nossa humanidade. Tudo
ali. Resquícios da existência humana. Que só nos aparece quando nos corta a
carne. Quando toca-nos o coração. Agressivo e extremamente singelo e pacífico.
Que loucura!
Chegando ao final, a pele. Ligada
ao corpo, rodeando os músculos. Derme, epiderme e não menos estonteantes. Fazendo-nos
lembrar o que é a ilusão. O que nossos sistemas sociais, culturais e históricos
nos fazem pensar que somos. E que na verdade somos totalmente iguais. Por
dentro da máquina. O que o que a gente vê mesmo é a imagem. O reflexo da
caverna de Platão. A constatação de que o que temos é quase um elemento mitológico
dentro da gente. Uma construção de algo
que é muito mais profundo e inatingível para nós. Que nossa incompreensão é
explicita, mas verdadeira e sofrida. Uma
capa. De algo totalmente sagrado. Um templo. É o que temos.
Imaginei os primeiros cientistas,
iluministas e até os anteriores pesquisadores, desbravando aqueles corpos. Todo
mistério e todo tabu que compreendia aquele templo, o corpo humano.
Bandeirantes aventureiros. É o que eles eram. Agradeci pela vida deles. Pela
coragem que tiveram. E agradeci pela ciência humana. Por trocarem os “pneus da
vida humana, com o carro andando”. A
medicina, a biologia, a química, a física. A psicologia. A nutrição Como são
importantes!
Atesto minha inquietude. Perturbei-me.
Somos demais! Espetaculares! Que máquina indescritível! E que Criador carinhoso.
Indecentemente apaixonado. Preocupado com detalhes invisíveis e totalmente
essenciais. À natureza, meu muito obrigado.
"E Deus criou o homem à sua
imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. “E contemplou toda
a sua obra, e viu que tudo era muito bom. Sobreveio à tarde e depois a manhã:
foi o sexto dia." Gênesis, 1; 27:31
Sobre a Exposição
O HUMAN BODIES – MARAVILHAS DO
CORPO HUMANO nos leva para uma jornada fascinante através do nosso bem mais
precioso: nossos corpos impressionantes, uma coisa que frequentemente não
compreendemos completamente.
Essa exibição é desenhada para
mudar isto.
Trata-se de um mergulho
tri-dimensional para dentro destes sistemas – pele e ossos, dos pés à cabeça –
todos com o objetivo de ajudar as pessoas, a tomar decisões mais informadas
sobre os cuidados com a saúde e o estilo de vida.
A mostra internacional foi
projetada numa grande estrutura onde estão galerias que levam os visitantes
através do corpo humano e corpos completos, em poses confortáveis e familiares,
ilustrando os sistemas numa forma dinâmica. Há ainda vários espécimes de órgãos
que ajudam os visitantes a investigar e entender mais a fundo as estruturas de
cada sistema.
Os corpos foram tratados pela
mundialmente conhecida da plastinação, que promove a conservação aos mesmos com
textura e coloração permanentes.
Durante todo o percurso são
gerados informações de forma prestativa para visitantes de todas as idades.
Muito criativa e informativa, a
exposição interessa a todo tipo de público, é uma excelente oportunidade de
conhecer os detalhes do nosso corpo.
O site: http://humanbodies.com.br/plus/