segunda-feira, 28 de abril de 2014

Para o amanhã... Por Adriano Goulart

Para o amanhã.

Serei direto.

Amanhã quando eu acordar e não estiver mais aqui, nessa condição temporal em que escrevo, quero ter certeza de que valeu a pena. Quero lembrar que não estive sozinho. Que os que eu amava estavam comigo.
Amanhã quando eu acordar, quero que as minhas irmãs tenham deixado claro pra mim que me amavam.  Que eu era importante. Pelo menos pra elas.

Quero que as nossas vivências tenham sido compartilhadas. Mas de verdade. Não só a vontade. Que não tenham sido palavras de uma bela oratória. Pelo contrário, que tenham sido simples e frequentes. Lúcidas, reais, diárias e próximas.  
Amanhã eu quero acordar e dizer: puta que o pariu como foi bom pois não estava sozinho!

Não quero justificativas. O cotidiano acontece. E pronto. Está implícito em nossa condição humana. Os problemas, as rotinas, os projetos e suas execuções. Mas quando o ultra-valorizamos e fazemos dele a regra, mesmo sem perceber, tornamos os que amamos secundários. E o que nos resta é justificar. Se é que isso é necessário.  Mas como isso dói.

O dia-a-dia é hoje. Agora. Mas e amanhã? O que vai ficar?
Amanhã quero acordar e saber que a biblioteca da minha vida teve livros em comum com as de quem eu amo. Não quero saber de folhas rasgadas ou desaparecidas nos livros dessas estantes coirmãs. Porque quando a minha biblioteca fechar as portas por algum motivo, dos mais diversos que existem, meus filhos, sobrinhos, ainda poderão beber da fonte desses exemplares para saberem como foi a história e ajudar assim a construir as suas próprias. Quero que saibam quem estava nela e como foi divertido ou triste. Que estória bonita foi escrita. Ou se a superficialidade foi o enredo.

Como é que eu faço? Para confirmar o amanhã? Para ter certeza de que ele será colorido como quero que seja. Sinto. Não sou ingênuo. A experiência da vida é um auto do inesperado. A gente sempre sai dela com alguma mensagem moral, ou imoral, sem ter a mínima ideia de como aquilo devidamente aconteceu. Sem saber do roteiro. E muito menos quem foram os escritores. Os colaboradores. Por isso espero que sejamos ao menos bons compiladores.
Ajude-me o meu amanhã ser hoje, já que a sequência está no campo do invisível.  Presentei-me. Seja presente.

A estratégia?
Mudemos o rumo.

A irmã que eu quero. Que eu sempre esperei. Hoje não a foi. Sinto. É a somatória de uma série de ausências que eu quero que mude. Ausências justificadas. É fato. Mas de que adianta se a página compartilhada não foi escrita? Já são passado.
 Por isso que preocupo com o amanhã.

Sabe o lindo jardim que você sonhou um dia no lugar onde eu estava? Quero ele real. E pode ser. Por favor não seja apenas observadora. Que possamos semear nossas flores bem próximas, de preferência juntos, para que quando floresçam o perfume possa nos ser sentido, e vivido bem forte.

Amanhã quando eu acordar e não estiver mais aqui, no presente, quero ter certeza de que valeu a pena. Quero lembrar que não estive sozinho. Que os que eu amava estavam comigo.