quinta-feira, 13 de maio de 2010

Análise do discurso midiático da imprensa escrita frente a problemas de segurança pública em comunidades urbanas periféricas e a repercussão social de seus processos comunicativos.

 

Análise do discurso midiático da imprensa escrita frente a problemas de segurança pública em comunidades urbanas periféricas e a repercussão social de seus processos comunicativos.

Adriano Goulart 1

RESUMO:

O artigo busca observar o discurso midiático da imprensa escrita frente a problemas públicos de segurança em comunidades periféricas da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Trás contribuições da discussão sobre o papel social dos média, construção social da realidade e o conceito de acontecimento. Estuda o caso específico da cobertura do Jornal Estado de Minas sobre o acontecimento conhecido como "Toque de Recolher em Contagem", em que o período de observação foi de 06/04/2010 a 12/04/2010. Enfatiza o impacto e o comportamento social em relação a atuação jornalística.

Palavras-chave: discurso midiático, construção social da realidade, papel social dos média.



  1. Introdução:

"Hoje nós estamos acostumados a pensar que os indivíduos que aparecem em nossos televisores pertencem a um mundo público aberto para todos. Podemos sentir certo grau de familiaridade com as personalidades e os líderes políticos que aparecem regularmente na televisão e na mídia. Podemos até considerá-los amigos, e referimo-nos a eles com certa intimidade. Mas sabemos também que eles aparecem diante de milhares ou milhões de outros, que eles são acessíveis a muitos outros além de nós. E por isso, embora possamos ver e ouvir estas celebridades com certa freqüência, é muito pouco provável que alguma vez as encontremos no curso de nossas vidas cotidianas.' (THOMPSON, 2009)



Há também em nossos tempos uma aproximação excessiva entre os meios, ou um processo de complementaridade entre o conteúdo disponibilizado por esses dispositivos de forma que, aquilo que é veiculado em um programa televisivo ou de rádio em geral, é reapresentado daquilo que já foi disseminado em outras fontes, como a imprensa escrita, e vice-versa.

Dessa forma, o fenômeno colocado por Thompson anteriormente, da intimidade e referencialidade que é adquirida por certas celebridades em relação ao seu público, pode ser migrado e observado também nos jornais escritos, por exemplo. Dessa vez, não mais como uma celebridade em questão, mas com um peso institucional que usa do prestígio de seus articulistas e correspondentes, ou mesmo da atuação dos mesmos para reproduzir os acontecimentos estendendo seu pensamento e opinião diante de fatos e problemas públicos.

Identificados com estratégias discursivas e posições de determinados jornais, os leitores desses veículos tendem a referenciar suas posições sobre assuntos diversos baseando-se unicamente nas colocações desses grupos comunicativos, de certa forma, reproduzindo seu conteúdo e legitimando a forma com que as informações são colocadas ao público leitor.

Mas o que acontece quando determinadas informações construídas e disseminadas por essas mídias tidas como veículos de grande credibilidade não são necessariamente expostas com a devida problematização contextual? Como referenciar-se numa notícia veiculada num espaço de tempo determinado se ao analisarmos tais discursos, os mesmos apresentam desvios, omissões ou superficialidades? E qual o comportamento da sociedade que se vê revelada, em um problema público de segurança, na qual a construção da realidade tem como determinante a performance midiática dos veículos informacionais ocorrendo-se através da cobertura de jornais e dispositivos diversos, colocados numa ótica de concorrência midiática em que tudo é espetacularizado?

Nesse ensaio procuramos analisar a cobertura midiática da imprensa escrita de um jornal com grande circulação na região metropolitana de Belo Horizonte. O "Estado de Minas" dos Diários Associados, terá seu discurso observado frente a problemas de segurança pública em comunidades urbanas periféricas e a repercussão social de seus processos comunicativos. Como estudo de caso, observamos o acontecimento intitulado "Toque de recolher na cidade de Contagem (MG)' cuja cobertura do veículo em questão aconteceu entre os dias 06/04/2010 e 12/04/2010.



  1. Sobre o papel social dos média



Numa primeira observação, coloca-se em análise a representatividade dos veículos de comunicação no espaço social. Afinal, tais produtoras de informação podem ser visualisadas como apenas disseminadores de notícias e acontecimentos imprevistos? Ou essas agências são dotadas de intencionalidades pré-determinadas e funcionam como reprodutoras de uma ideologia ou hegemonia cultural?

Questionando-se o propósito da imprensa, a destinação dada aos seus conteúdos e a classe do público a quem os veículos se orientam, o professor 2José Marques de Melo, renomado pesquisador e líder-pioneiro dos estudos de jornalismo comparado no Brasil, citado por Erbolato, M, L., 1991, p.114, escreve:

"Nos países e regiões de baixo nível econômico e, consequentemente , de baixo nível cultural, a imprensa assume o papel de um meio de comunicação de elite, se comparado aos outros meios de comunicação social". "É o caso do Brasil e da grande maioria dos países do chamado Terceiro mundo, onde a leitura dos jornais, por exemplo, é feita regularmente apenas pelas classes abastadas e por setores da classe média." basta analisar a as estatísticas da UNESCO para chegar a essa conclusão". (ERBOLATO, 1991, p.114)

Isso repercute de forma integral na reflexão, uma vez que embora o público leitor interaja com a concepção da notícia, e nesse sentido, conforma ou não tais entendimentos, em geral o conteúdo e a estratégia discursiva utilizada pela mídia impressa vêm carregados de elementos alinhados a uma ideologia elitista e conservadora que congrega interesse dos produtores e patrocinadores dos veículos comunicativos. Mesmo apropriados de certa sutileza, os termos utilizados para veiculação das notícias apresentam muito da visão que é compartilhada sobre os assuntos por uma chamada hegemonia dominante.

Os estudos de Stuart Hall, coloca (MATTELART, 1995), sobre o papel ideológico da mídia e a natureza da ideologia representam um momento importante: Do lado da audiência, a análise de Hall definiu três tipos de decodificação: "dominante, oposicional e negociada". O primeiro corresponde aos modos de ver "hegemônicos", apresentados como "naturais, legítimos , inevitáveis, o senso comum de uma ordem social e de um universo profissional."

O segundo interpreta a mensagem a partir de um "outro quadro de referência" , de uma visão de mundo contrária (por exemplo, traduzindo o "interesse nacional" por "interesse de classe"). O código negociado é uma mescla de elementos de oposição e de adaptação, um misto de lógicas contraditórias que subscreve significações e valores dominantes, mas busca numa situação vivida em interesses categorias por exemplo, argumentos de refutação de definições geralmente aceitas.



  1. A construção social da realidade.

Ao pensarmos que na representação da sociedade, em que aparecem especialmente as rupturas, no eixo do tempo ou no campo social, (LUHMANN, 2005) afirma que de "forma correspondente, conformidade e acordo, repetição sempre das mesmas experiências e constância das condições gerais permanecem subiluminadas." e acrescenta que "prefere-se antes os distúrbios à ordem por força de uma habilidade profissional existente entre os realizadores midiáticos".

Para (TRAQUINA, 1999) "As notícias constituem uma narrativa representativa da cultura. Assim, as notícias ajudam-nos a compreender os valores e os símbolos com significado de uma determinada cultura." Citando 3Paillet, Marc (1985, p.168), Traquina lembra que "a notícia impressa não se parece nunca com o fato visto: as escolhas, as distorções, os múltiplos constrangimentos mais ou menos inevitáveis aparecem de modo evidente". Dessa forma, os jornalistas não são simplesmente observadores passivos, mas ativos no processo de construção da realidade.

Assim, a linguagem utilizada pelos veículos de informação e comunicação por conseguinte, segundo Coward &Ellis citado por Traquina (1999, p.124) é tratada como uma "representação, um reflexo do mundo real". Nisso, a "narrativa realista não parece ser a voz de um autor, ou melhor a sua fonte parece ser a uma realidade autêntica, que fala ao ouvinte. "



  1. Sobre a noção de acontecimento e a notícia



Acontecimento, segundo QUÈRÉ (2005), "não é só um facto no mundo, composto de dados actuais e susceptível de ser explicado causalmente ou interpretado à luz de um contexto. Produz-se contra toda expectativa ou previsão." Dessa forma, ele força a sociedade a olhar para o passado buscando valores e elementos que possam dar um parâmetro de interpretação para a nova ordem.

Um acontecimento inaugura um novo tempo. E nessa busca de entendimento sobre a nova ordem abre-se um campo de novas possibilidades até então não percebidas.

A mídia e os veículos de comunicação têm um papel fundamental nessa nova interpretação da realidade. Ela contribui disponibilizando a sociedade de elementos que favorecem a conexão entre o passado e o ocorrido para fins de restabelecer uma continuidade cognitiva dos fatos.

Para (TRAQUINA, 1999), "acontecimentos noticiáveis são aqueles que parecem interromper as fronteiras de um consenso. O consenso se baseia nos meios de ação legítima e institucionalizada."

Em alguns momentos, o enquadramento dado ao acontecimento pela mídia e a imprensa sugere possibilidades que na medida em que a sociedade culturalmente conforma, estabelece-se novos paradigmas, mas que via de regra, tem caráter conservador e tradicional. O enquadramento normalmente está associado a ideologia produtora da notícia. Ela e as ideologias sociais dominantes estão integralmente ligadas.

A mídia costuma revestir os acontecimentos de emocionalidade, o que constituem um de seus impactos principais. Essa especulação, completa (TRAQUINA, 1999) sugere que "a transmissão de acontecimentos os torna não só diferentes, mas principalmente mais importantes."

Especial atenção dá-se ao foco que o jornalismo dá as chamada "negatividade da notícia". Para (TRAQUINA, 1999) as notícias que apresentam elementos negativos como crimes, por exemplo, "envolvem o lado negativo de um consenso, visto que a lei, nesse caso, define aquilo que a sociedade julga ser tipo de ação Ilegítima" e tendem a conseguir mais audiência, uma vez que sua comunicabilidade ocorre-se sem grandes dificuldades. A sociedade conforma com mais facilidade a itens noticiosos desse perfil. Costuma-se inclusive já previamente ter-se idéia do roteiro dos acontecimentos e a função dos personagens no aspecto performático. Sua repetição costuma estar associada ao impacto na audiência.

Nesse contexto,

"na área das notícias de crime, os media parecem estar mais fortemente dependentes das instituições de controle do crime para as suas "estórias" do que praticamente em qualquer outra área. A polícia , os porta-vozes do Ministério do Inteior e os tribunais constituem um quase monopólio como fontes de notícias de crimes". (TRAQUINA, 1999, P.239)



  1. Análise da cobertura do Jornal Estado de Minas, dos Diários Associados no acontecimento que ficou conhecido como "Toque de Recolher em Contagem".

Observaremos a seguir a cobertura midiática jornalística do acontecimento em questão. Como referência, acompanharemos o discurso midiático escrito, que foi veiculado entre os dias 06/04/2010 e 12/04/2010. Período esse em que houve cobertura desse fato pela mídia televisiva, webjornalismo e sobretudo dos jornais impressos de toda a capital mineira.

Na terça-feira, 06/04/2010, o Jornal Estado de Minas veiculou sua primeira matéria sobre o caso, acompanhando já sua repercussão, uma vez que o acontecimento iniciou-se três antes.

Em sua Capa , a chamada era : "Tráfico desafia polícia em contagem." A informação complementar trazia : "A mando de traficantes, comércio e escolas não abrem as portas nos bairros Estrela Dalva e São Mateus, mesma com reforço policia. A ordem foi dada no sábado, depois da morte de dois homens acusados de roubo à mão armada e suspeitos de envolvimento com tráfico.

Nota-se que a princípio apresenta-se um problema de segurança pública em que o embate travado entre polícia e supostos traficantes da região no qual a astúcia dos bandidos colocara toda a eficiência da polícia em cheque e afetara toda população local.

Na mesma edição, na página 22, a manchete trazia meia página superior do jornal, em destaque no alto da página a palavra "MEDO", em caixa alta sugerindo o clima da proposta.

A matéria trazia uma foto central cujo enquadramento se dava em três viaturas da polícia no plano principal e ao fundo, lojas com as portas fechadas. O título: "Toque de recolher imposto por traficantes no Estrela Dalva e São Mateus, em Contagem, na Grande BH, desafia a polícia e mantém os moradores atemorizados desde a noite de sábado. ". Em destaque: "Bairros sem aula e comércio" com letras grandes.

O lead trazia as seguintes informações: "O Comércio não abriu a portas e nas salas de aula as carteiras permaneceram vazias no terceiro dia do toque de recolher imposto por traficantes nos bairros Estrela Dalva e São Mateus, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A ordem foi dada no sábado, depois que a Polícia Militar encontrou os corpos de dois moradores do Estrela Dalva num matagal no Morro do Cabrito, no Bairro Arvoredo II. Segundo a polícia, Wanderson Roque Souza, de 22 anos, e Marvel Ferreira Soares, de 26, tinham passagem pela polícia por roubo à mão armada e eram suspeitos de participação no tráfico de drogas na região".

Nota-se na apresentação, já uma preocupação em obter a versão policial sobre o contexto, que prontamente coloca os jovens citados como meliantes com antecedentes criminais. Versão essa que não será confirmada futuramente.

Os parágrafos seguintes apresentam uma série de informações que contextualizam a notícia e o propósito da matéria, como segue:

Parágrafo 2:

1 – Traficantes ordenaram que o comércio fechasse as portas no sábado, 01/04. (Informação da polícia) / 2 - No domingo, 02/04, um ônibus da linha 2810 (que liga Estrela Dalva ao São Mateus) foi incendiado por quatro homens. (Informação da polícia) / 3 – Esses homens deixaram um bilhete próximo ao coletivo, informando que os ataques e o toque de recolher só iriam terminar quando as mortes de Wanderson e Marvel fossem esclarecidas. (Informação da polícia)

Parágrafo 3:

1 – Cemig esteve no local para fazer reparos. (Informação da polícia) / 2 – Moradores não se arriscam a falar sobre o assunto. (Apuração do jornal) / 3 – Morador "Não identificado" confirmou que houve uma ordem dos traficantes para que o comércio , as escolas e o posto de saúde não abrissem enquanto não fosse dada autorização. (Apuração do jornal)

Parágrafo 4

1 – Escola Municipal Wancleber Pacheco e Escola Estadual Maria de Sales não funcionaram. (Apuração do Jornal) – Obs: Segundo a Secretaria Municipal de Educação de Contagem, a Escola Municipal Wancleber Pacheco fica no bairro Tijuca, e não nos bairros anunciados como vítimas do toque de recolher inicialmente. / 2 – Moradores afirmam que traficantes disseram que as pessoas mataram os jovens foram os policiais. (Apuração do jornal). / 3 – Comerciante (não identificado) afirma que os dois rapazes mortos "eram pessoas trabalhadoras e muito queridas no bairro". (Apuração do jornal)

Parágrafo 5

1 – Polícia dobrou o policiamento nos dois bairros após o toque de recolher (Informação da polícia) / 2 – Além do policiamento comunitário, se juntaram a Companhia de missões especiais, Grupo especializado de policiamento em Áreas de Risco da PM, Grupo Especial de resgate, polícia civil. (Informação da polícia) / 3 – Polícia diz que "tenta garantir a segurança dos moradores, para que a rotina volte ao normal"

Parágrafo 6

1 – Polícia afirma que já identificou os traficantes – "Já estamos no encalço dos suspeitos" / 2 – Polícia afirma não divulgar os nomes para não atrapalhar nas investigações / 3 – Delegacia de homicídios afirma que "esclarecerá o caso nas próximas horas"

Nota-se que no primeiro dia de apuração, há um interesse em compreender e esclarecer a situação e apresenta um discurso que busca atender uma necessidade imediata de resolução do caso. No entanto, a versão oficial da polícia é a de que os jovens mortos (motivos do toque de recolher) tinham antecedentes criminais, mas a população parece transparecer que os jovens não tinham esses problemas com a justiça e contrariamente eram jovens considerados "queridos" pela comunidade. No entanto, privilegia-se a versão da polícia.

Na quarta-feira, 07/04/2010, o jornal cobria novamente o acontecimento, que ainda não havia sido solucionado. Em sua página 25, na seção "Gerais", meia página inferior foi dedicada ao assunto. Em destaque no alto da notícia a chamada "toque de recolher". Duas foto centrais chamavam atenção a matéria e o enquadramento da foto 1 apresentava uma senhora idosa com a mão na cabeça (Legenda informa que ela tem dores no corpo, tem 91 anos e achou a unidade "lacrada"), sem informar qual unidade seria essa. A foto 2 trazia em seu enquadramento uma rua com várias viaturas da polícia. O título trazia: "No quarto dia do terror imposto por bandidos em dois bairros de Contagem, lojas e escolas não abrem e PM reforça a vigilância". Em destaque: "Até posto de saúde é fechado pelo tráfico".

O lead da notícia era: "Moradores dos bairros São Mateus e Estrela Dalva na Grande BH, viveram ontem mais um dia de medo devido ao toque de recolher imposto por traficantes. O comércio não abre as portas desde sábado e pelo menos mil alunos da rede municipal de ensino estão com as aulas suspensas. O posto de saúde também foi fechado ontem. Nas rodas de conversa nas praças e nas esquinas, o assunto é o terror espalhado pelos traficantes. Ontem, o secretário municipal de Educação Lindomar Diamantino, percorreu duas escolas municipais e pediu que a Polícia Militar reforçasse a segurança nas Instituições para que as aulas tenham início hoje. Mesmo com medo, alguns professores teriam se comprometido em retornar as salas de aula. "

Na sequência, o clima de "terror" é enfatizado:

Parágrafo 2

1 – Vaivém de policiais armados lembra 'cenário de guerra." (Não houve apuração de sequer um embate entre a polícia e os supostos traficantes) / 2 – Moradores suspeitos são abordados (Apuração do jornal) / 3 – Moradores vêem a movimentação das janelas de suas casas. (Apuração do jornal) / 4 – Dois ônibus foram depredados e um incendiado ontem. (A apuração policial constatou que embora os incidentes tenham de fato acontecido, apenas um deles aconteceu realmente na região do acontecimento em questão. Houve então, uma apropriação da notícia no sentido de ampliar a tese de terror. ) / 5 – Traficantes teriam deixado um bilhete informando que o toque de recolher só acabaria quando as pessoas que mataram os dois jovens forem presos. (Informação policial)

Parágrafo 3

1 – Polícia informa que já tem o nome de 4 suspeitos de impor o toque de recolher. / 2 – Polícia aguarda emissão de mandado de buscas.

Parágrafo 4

1 – No quarto dia do toque de recolher, comerciante (não identificado) afirma que só vai abrir as portas quando os traficantes autorizarem. (Apuração do jornal) / 2 – Uma mulher (não identificada) diz que "já pensa em se mudar" "Aqui a gente não tem paz". (Apuração do jornal)

Parágrafo 5

1 – Posto de saúde tem os portões trancados (Apuração do jornal) / 2 – Senhora (não identificada) pergunta: "até quando isso vai durar?" (Apuração do jornal) /

Parágrafo 6

1 – O jornal retoma a apresentação dos motivos do acontecimento.

No segundo dia da cobertura, o jornal ainda privilegia a informação oficial, e adota uma estratégia de apresentar entendimentos de populares. O fato de alguns moradores não aceitarem se identificar favorece a proposição do jornal de expressar o ambiente de medo. Agora a polícia afirma e os moradores não se identificam.

Na quinta-feira, 08/04/2010, quinto dia da situação, o Jornal Estado de Minas trouxe em sua capa uma chamada na lateral esquerda inferior com destaque "Medo em Contagem – Comércio e serviços públicos fecham pelo quinto dia seguindo em três bairros de Contagem, mesmo com a cavalaria da PM reforçando operação contra o toque de recolher imposto por traficantes".

Na página 24 do caderno "Gerais", novamente meia página superior é dedicada ao assunto. Em destaque no alto da notícia a chamada "Domínio do Tráfico". Duas fotos laterais – 1 grande e outra pequena – traziam em seu enquadramento 1 (foto grande) : Cavalaria da polícia em uma rua do bairro, ao fundo, espaços com portas fechadas. (na legenda da foto: Cavalaria da Polícia Militar reforçou ontem o policiamento ostensivo para garantir a segurança à população nas ruas do bairro Estrela Dalva"). No enquadramento 2: Presença da polícia num espaço público, aparentemente uma praça (na legenda – Agentes ocuparam também o Bairro Tijuca, onde lojas foram fechadas) .

No título da matéria: "PM monta operação de guerra, ocupa ruas e becos, mas não consegue pôr fim ao fechamento, pelo quinto dia consecutivo, do comércio e de serviços públicos em três bairros de Contagem".Em destaque: "Toque de recolher se alastra".

No lead: "A Polícia Militar armou uma operação de guerra para tentar por um fim ao toque de recolher imposto sábado por traficantes nos bairros São Mateus e Estrela Dalva , em Contagem, na Grande BH. Na operação , homens da cavalaria e do Batalhão de Policiamento de eventos se juntaram ontem ao efetivo do tático móvel, à Companhia de Missões Especiais, ao Grupo Especializado de Policiamento em Áreas de Risco e ao Grupo especial de Resgate. Quem entra e sai dos bairros afetados é abordado. As ruas e becos foram tomadas por policiais fortemente armados."

Parágrafo 2

1 – Comerciantes do bairro tijuca fecham as portas com medo de retaliações. (Apuração do jornal – nota-se que não houve nenhum incidente nesse bairro.) / 2 – Possibilidade de acontecer o toque de recolher nos bairros Confisco e Pedra Azul (Apuração do jornal) / 3 – Polícia prende um suspeito de ter incendiado o ônibus no domingo. (Informação policial)

Parágrafo 3

1 – Escolas e posto de saúde não funcionam no quinto dia consecutivo. (Apuração do jornal) / 2 – Comerciante (não identificado) diz que perdeu R$20,000 em frutas e hortaliças. (Apuração do jornal) / 3 – Morador (não identificado) afirma que para fazer comprar, tem de ir a outras regiões de Contagem. (Apuração do jornal)

Parágrafo 4

1 – Comerciantes afirmam que só vão abrir as portas sob autorização dos traficantes (Apuração do jornal) / 2 – A PM afirma ter o nome de suspeitos de comandarem o tráfico de drogas

Parágrafo 5

1 – Um dos supostos envolvidos seria um adolescente de 15 anos. (Apuração do jornal) / 2 – A polícia afirma garantir a segurança dos comerciantes, mas estes insistem em não abrir. (Informação policial) / 3 – A polícia afirma que irá fazer um trabalho de prevenção com os moradores logo que a situação for normalizada.

Parágrafo 6

1 – Pais de alunos de escolas municipais não mandam os filhos para as aulas, mesmo com a garantia de segurança. (Apuração do jornal) / 2 – Professores das escolas locais em reunião afirmam só voltar as aulas na próxima segunda feira. (Apuração do jornal) / 3 – Moradora (não identificada) diz: "A gente não sabe se pode ocorrer um tiroteio a qualquer momento. Vou aguardar as coisas melhorarem para o meu filho voltar a estudar". (Apuração do jornal) / 4 – O jornal retomou a apresentação dos motivos do acontecimento do dia 06/04. / 5 – Ivan Vieira de Sá, 18 anos, foi autuado por porte ilegal de munição, apontado em denúncias anônimas como homem que incendiou o coletivo no domingo. (Informação policial)

Parágrafo 7

1 – Prefeitura de Contagem remanejou médicos, enfermeiros e auxiliares para unidades de saúde de bairros próximos. (Apuração do jornal) / 2 – Cartazes com informações sobre o atendimento de saúde foram distribuídos (Apuração do jornal). / 3 – Secretaria de Estado de Defesa social divulgou nota oficial, afirmando que as áreas de inteligência estão em processo de investigação para pro fim ao toque de recolher.

Nota-se que a partir desse dia, já há uma repercussão do acontecimento cujo comportamento das comunidades vizinhas foi afetado. A reportagem já demonstra certa inquietação com a situação. Embora, de fato concreto, apenas o acontecimento do ônibus incendiado tivesse realmente ocorrido e felizmente sem vítimas, a população, provavelmente alardeada pelo clima tenso provocado pela presença ostensiva da polícia e assustada com a cobertura da mídia, que repetidas vezes propõe os termos "terror" e "medo", adota um comportamento de prudência e reproduzem o clima construído pela imprensa, fechando suas portas. Dessa forma, geograficamente a área de abrangência do toque de recolher se amplia sem nenhum ato de violência, ou imposição de traficantes confirmados. Percebe-se aqui uma construção da realidade que incide diretamente no comportamento da população.

Na sexta-feira, 09/04/2010, a cobertura continua com a manutenção da estratégia espetacularizada. A capa veicula uma chamada na parte inferior – "Medo em Contagem: PM prende um dos suspeitos de ordenar toque de recolher". Em seu caderno "Gerais", na página 28 novamente utiliza-se de meia página superior cujo destaque no alto da notícia lembra o "toque de recolher". Como elementos visual, uma foto lateral, no qual o enquadramento focaliza um policial de costas e viatura da PM. Ao fundo, lojas com as portas fechadas.

Como título: "Acusado de incendiar ônibus e impor fechamento de lojas e serviços públicos em três bairros de Contagem, jovem é detido e nega crime. PM investiga assassinatos e prefeitura exige soluções". Em destaque: "Polícia prende suspeito".

O lead na matéria apresenta: "A Corregedoria da Polícia Militar instaurou inquérito para apurar o suposto envolvimento de PMs no assassinato de dois jovens no Morro do Cabrito, no Bairro Arvoredo II, em Contagem, na Grande BH. Os crimes teriam motivado o toque de recolher imposto há seis dias por traficantes de drogas nos bairros Estrela Dalva, São Mateus e Tijuca, exigindo a apuração dos crimes, fechamento do comércio e serviços públicos".

Na sequência: Parágrafo 2

1 – Houve comentários sobre a participação de militares no homicídio dos jovens (Apuração do jornal) / 2 – Comando da Polícia resolveu apurar, mesmo sem haver denúncia formal. (Informação policial) / 3 – Segundo comandante, "acusações sem fundamento". (Informação policial)

Parágrafo 3

1 – Polícia prende suspeito de ter incendiado um ônibus (Informação policial)

Parágrafo 4

1 – Com o suspeito foi apreendido munições de calibres 380 e 9 mm. (Informação policial)

Parágrafo 5

1 – Polícia mantém sua tropa na região do Estrela Dalva , abordando suspeitos (Informação policial)

Parágrafo 6

1 – Prefeita de Contagem, Marília Campos, reuniu-se com os comandos das policiais civil e militar, exigindo uma resposta imediata para os problemas. (Apuração do jornal)

Parágrafo 7

1 – De três escolas municipais, uma continua fechada por causa do toque de recolher. (Apuração do jornal). Segundo a Secretaria Municipal de Educação de Contagem, nos bairros afetados diretamente só há uma escola municipal, no bairro Tijuca. As outras são escolas estaduais.

A cobertura desse dia trouxe elementos reveladores da situação, que foi o reconhecimento por parte do Comando da Polícia da existência real de denúncias sobre a participação do seu efetivo na morte dos dois jovens, que seriam a motivação para a imposição do toque de recolher. Interessante o fato de que a abordagem aos moradores "não identificados" já não aparece na cobertura jornalística. O cenário de entendimento do acontecimento gera outro universo de possíveis com a abertura de diligência da polícia sobre a participação dos policiais. Note-se também que mesmo com quase uma semana da situação, os supostos traficantes que impuseram o toque de recolher ainda não foram anunciados e os detidos devidamente apresentados.

A estratégia midiática de colocar a PM como fonte primeira de elucidação de um problema de segurança pública esbarra na contextualização de um Estado ausente e ineficiente frente a uma situação inusitada e completamente inesperada. Rapidamente utiliza-se de uma tentativa de resposta retórica, que em médio prazo é confrontado com uma prática ínfima de presença em comunidades não elitizadas.

No sábado, 10/04/2010, o jornal veicula na página 22, meia página superior no qual a chamada ainda é o "toque de recolher". Duas fotos centrais. Uma Foto grande e outra pequena. Enquadramento foto 1 : Policias de costas. Ao fundo, lojas com as portas fechadas (Legenda da foto – apesar do patrulhamento ostensivo no Bairro Tijuca, na Grande BH, o comércio não abriu as portas). Enquadramento foto 2: Rapaz escrevendo a palavra paz numa rua. Ao fundo, aparentemente uma loja com as portas fechadas. (legenda: Pastor Luiz Paulo Terrinha pinta a palavra paz em calçado do bairro).

Com o título: "Comércio, escolas e postos de saúde de três bairros em Contagem continuam fechados, mesmo com megaesquema que envolveu 240 policiais militares e civis. Treze suspeitos foram presos". Em destaque: "Operação não surte efeitos"

No Lead: "Uma megaoperação das polícias Civil e Militar na manhã de ontem, para prender suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas, homicídios e outros crimes, não foi suficiente para resgatar a tranqüilidade nos bairros Estrela Dalva, São Mateus e Tijuca, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Há uma semana, traficantes determinaram o toque de recolher e mesmo com a prisão de 13 suspeitos com comércio e unidades de atendimento à população , como postos de saúde e escolas , permanecem sem funcionar ".

Parágrafo 2

1 – O toque de recolher teria sido motivado pelo assassinato de dois rapazes, crimes atribuídos a policiais militares e que levaram a corporação a abrir inquérito. (Apuração do jornal) / 2 – Polícias fazem ação envolvendo 240 militares e policiais civis. (Informação policial)

Parágrafo 3

1 – Comboios com policiais foram diretos a casa dos suspeitos. (Informação policial) / 2 – Presos foram apresentados a imprensa no DI. (Informação policial) / 3 – Polícia não aponta qual seria a real participação de cada um nos últimos acontecimentos (Apuração do jornal) / 4 – Apenas 3 estariam presentes na ação do incêndio ao ônibus (Apuração do jornal)

Parágrafo 4

1 – Comerciante é advertido pelos policiais por ter colocado faixa em seu estabelecimento com "entendimento contrário" ao dos policias (Apuração do jornal) / 2 – Pastor evangélico organiza uma marcha pela paz, sem data definida, na região (Apuração do jornal)

Parágrafo 5

1 – Pastor e fieis de Igreja Evangélica escreve palavras de paz (Apuração do jornal) / 2 – Polícia afirma que vai continuar na região (Informação policial)

Parágrafo 6

1 – Policia confirma que há denúncias a participação de policiais na morte de jovens que teriam motivado o toque de recolher. (Informação policial) / 2 – Delegada conclama a população a se manifestar através do disque-denuncias 181 (Apuração do jornal)

A análise do noticiário desse dia mostra-nos o discurso reconhecido como oficial apresentando contradições. Embora a ação policial tivesse sido divulgada como "megaoperação", e seu resultado fora a detenção de 13 pessoas, o incômodo social não havia sido resolvido. A polícia também reconheceu que dos mesmos, somente 3 tinham alguma ligação com o caso, através do episódio do incêndio do ônibus.

Nota-se também uma mudança de postura em relação a comunidade local por parte da mídia, que embora ainda sofresse com o toque de recolher, não era mais apresentado como "não identificado". A presença de nomes como o do 'pastor evangélico que pintava palavras de paz na calçada" revela a existência de talvez uma mínima organização local, com lideranças públicas, conscientes, e contrarias a proposição de ser apresentada como uma comunidade carente, pobre e amedrontada.

No Domingo, 11/04/2010, O Jornal Estado de Minas busca elementos que configurassem uma retrospectiva da semana. Dessa vez, apresenta uma foto na Contra Capa de sua edição – Nela, uma Legenda que informava: "Toque e recolher – pão, leite, feijão, verduras e remédio. Tudo isso e muito mais está em falta , há uma semana, para cerca de 60 mil moradores dos bairros Estrela Dalva, Tijuca e São Mateus, em Contagem, na Grade BH. O desabastecimento geral é em função de um toque de recolher imposto por traficantes da região, e mesmo com a presença ostensiva da PM, nenhum estabelecimento comercial abriu as portas, nem mesmo igrejas e lojas de jogo de bicho. Amedrontada a população só fala sem revelar a identidade").

Percebe-se que nessa apresentação, o jornal retoma o caso sem explicar os motivos que a princípio levaram ao problema de segurança pública e nem ao menos sem apreciar o envolvimento da polícia contraditório no caso.

Na segunda-feira, 12/04/2010, a resolução do caso. Capa com chamada lateral: "Violência: Depois de 9 dias , comércio pode voltar a abrir em Contagem – Moradores dos bairros São Mateus, Estrela Dalva e Tijuca dizem ter recebido informação de que toque de recolher imposto dia 3 por traficantes deve ser suspenso hoje. Policia militar mantém efetivo reforçado na região."

Dessa vez, em seu caderno "Gerais", na página 23, o jornal utiliza-se de apenas ¼ da página superior direita para a matéria e coloca chamada "população refém".

Uma foto lateral é apresentada cujo enquadramento: Viatura da polícia em rua do bairro com as pessoas olhando para viatura (legenda : Carro policial fez patrulhamento ontem no Aglomerado Recanto da Pampulha, no Bairro Estrela Dalva).

O título trás: "fechados há nove dias, por ordem de bandidos, lojas, escolas e postos de saúde reabrem hoje, em três bairros de Contagem." Em destaque: "Tráfico suspende toque de recolher".

No Lead: "Depois de nove dias de toque de recolher imposto por traficantes e o cerco geral da Polícia Militar, lojas, bares, oficinas , escritórios, escolas e postos de saúde voltam a funcionar hoje nos bairros São Mateus, Estrela Dalva e Tijuca, em Contagem, na Grande BH. Durante esse período, mais de 60 mil moradores só saíram para o trabalho, sendo obrigados a viajar peara regiões vizinhas para comprar comida e remédios. Mesmo com a presença ostensiva de policiais militares durante o dia e a noite, comerciantes não se arriscaram a abrir ar postas. A ação seria em represália ao assassinato de dois jovens."

Parágrafo 2

1 – comércio não funcionou depois da morte de dois jovens. (Apuração do jornal)

Parágrafo 3

1 – Este toque de recolher foi o mais prolongado da região metropolitana de BH (Apuração do jornal) / 2 – Polícias fez patrulhamento e rondas durante toda a semana, mas ninguém foi preso. (Apuração do jornal) / 3 – Apenas algumas Igrejas Evangélicas e Católicas abriram as portas (Apuração do jornal)

Parágrafo 4

1 – Segundo moradores, circulou uma informação de que traficantes suspenderiam hoje o toque de recolher (Apuração do jornal) / 2 – Jovem disse que tem de ir de ônibus ao bairro Confisco para comprar alimentos. (Apuração do jornal) / 3 – Segundo moradora "o problema aqui é que ninguém confia na proteção da policia e ela (a polícia) , muitas vezes não é nem um pouco simpática. (Apuração do jornal)

Nesse último dia de cobertura do "toque de recolher", a estratégia do veículo de comunicação foi a de propor uma espécie de balanço do acontecimento. Dessa vez, ela estabelece um discurso mais equilibrado no sentido de buscar uma suposta resolução do conflito. No entanto, ao apresentar uma síntese dos fatos, ela omite mais uma vez a problematização do caso, garantindo assim um desfecho simplificado do problema e sobretudo, o impacto que sua cobertura teve principalmente na população local.





  1. Conclusões



Procuramos refletir nuâncias relacionadas a cobertura midiática frente a problemas públicos de segurança. Nessa observação específica, a linguagem utilizada apresentou elementos que confirmam a fala de Pailet, quando adverte que a notícia impressa não se parece nunca com o fato visto. No entanto, a construção da realidade social e o tratamento dado aos fatos pelos profissionais da comunicação responsáveis, frente ao público leitor têm grande relevância no comportamento da comunidade. A mesma tende a referenciar-se na cobertura jornalística com fins de interpretação dos fatos e reintegração da continuidade temporal cognitiva. Portanto, a mídia não determina como será a atuação das pessoas, mas pauta caminhos possíveis de interpretação, em geral favorecendo a uma ideologia muito específica e mercadológica de orientação dos fatos.

Transparece-nos ao decorrer dos dias, elementos do discurso que buscam reforçar conceitos pré-existentes de sociedade e seus agentes, como na fala da polícia colocada como elemento de credibilidade intocável, mas que ao se deparar com situações internas contrárias a esse mecanismo (como exemplo, o envolvimento dos policiais no contexto do problema), omite-se ou ignora-se o acompanhamento no novo fato. O uso de termos como "aglomerado", "becos" "medo", "terror" garantindo a ambientação da proposta e o lugar de comunidades periféricas no entendimento social, e a afirmação inicial de que os jovens em que a polícia afirma ter envolvimento com o crime, mas que não são confirmados, no entanto reforçam a tese da manutenção de uma ordem social não analisada e com a problematização omitida durante o percurso.

À sociedade que conforma e legitimam esses entendimentos, sobretudo as comunidades próximas ao local do acontecimento e mais diretamente afetadas pela cobertura midiática restam-se a convivência com a repercussão que tal noticiário propõe. Bairros a partir daí estereotipados pelo fator violência, medo e terror. O reforço de elementos negativos, que no entendimento de uma cultura elitista, desloca o foco de seus problemas como de segurança pública para comunidades periféricas e garante seu restabelecimento nesses termos, com "bons" e "maus" bem definidos no contexto, mesmo sem a devida apreciação.

Comunidades essas também, que reclamam por não ver suas expressões culturais e sociais positivas acompanhadas com o mesmo interesse pela mídia e a sociedade como um todo. No estudo do caso em questão, não houve ponderações futuras após o ocorrido de como os moradores se colocaram após o término do toque de recolher. Houve manifestações? A polícia revelou ou prendeu os supostos traficantes que impuseram o toque? E a presença de policiais no crime dos dois jovens, que motivou a situação foi apurada ou veio a público? Infelizmente nada foi noticiado até o momento.



  1. Referências



ARMAND E MATTELART. Michele. Indústria Cultural, ideologia e poder, in.: Histórias das Teorias da comunicação . p.73 a 111 - 3º ed. 1995


ERBOLATO, Mario L. As categorias do jornalismo. In. Técnicas de codificação em jornalismo , p.26 a 44, 53 a 78 e 240 a 251 - 5º ed. 1991

Jornal Estado de Minas. Belo Horizonte, 2010. Caderno "Gerais". (06.abr.2010 a 12.abr.2010)

LAGE, Nilson. Estrutura da notícia. São Paulo: (s.n), 1987. 2.ed. p.16-44. (série princípios)

LUHMANN, Niklas. A construção da realidade. In.: A realidade dos meios de comunicação. São Paulo: Paulus, 2005. p.132-144


QUÈRÉ, L. Entre o facto e o sentido: a dualidade do acontecimento. Lisboa: Trajectos, 2005. p.59-75, (n.6)


THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade:uma teoria social da mídia. Petrópolis, Vozes, 2009. 261p.


TRAQUINA, Nelson (Org.). Jornalismo: questões, teorias e estórias. (s.l):veja, 1999. 358p.

1 Especializando do Curso de Pós Graduação em Comunicação: imagens e culturas midiáticas da UFMG -

  Bacharel em Biblioteconomia pela UFMG

2 José Marques de Melo. Comunicação, opinião e desenvolvimento. Petrópolis, Editora Vozes ltda.

3 Paillet, Marc. Jornalismo: 4º poder, p.154




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