quarta-feira, 27 de maio de 2009

Controvérsias sobre o que eu não sei de mim.

Controvérsias sobre o que eu não sei de mim. (Por Adriano Goulart)


Penso em tanta coisa e ao mesmo tempo não penso em nada. De que adianta tanta informação se não sei me relacionar?
Tenho medo, dificuldade de conversar, sou tímido. Tudo não passa de mera técnica. Incorporo o personagem que eu não sou e vivo sorrindo. O que eu gosto, dá preguiça às outras pessoas. Então porque as aprendi?

A incompletude humana. Dói saber disso. Que somos pequenos. Medíocres. A religião me conforta, mas não a ponto de me fazer esquecer dela. O limite, o passageiro. Sou ridiculamente real, mas divinamente irreal. Como conviver com isso?

Amo pessoas demais para não saber quem eu amo. Aliás o que é o amor? Todo mundo pergunta. Mas será que existe mesmo? Amor de mãe é fato. Já se basta. Mas e o amor entre os outros? Seriam apenas objeto de interesse? Porque a escolha é tão cruel? Porque nossas decisões são tão efêmeras. Fazer-se certo é sinal de que tudo vai dar errado. Não há caminho único e isso é foda.

To triste e não sei por quê. Apaixonado e não sei por quem. Estudar? Trabalhar? Viver.. Me esbaldar! Sou covarde demais para isso. De onde vem a minha covardia? Tenho isso desde pequeno. Excesso de responsabilidade? Preciosismo?

Quero me encontrar. Já estou cansado. Reforço a cada dia a minha contradição. Sou feliz? Que merda de coisa é essa? A certeza da total incerteza. Como explicar? Vivo.

Procurando entender...

Penso em nada e ao mesmo tempo me vem tudo... Informar-me é fazer por onde para me relacionar. Quando sei, ainda que pouco, por si só, já sou alguém. Ou me sinto assim.

O medo é positivo, meu limite contra minha própria barbárie. Não converso, pois as pessoas também não fazem isso. Elas apenas balbuciam. Robôs prontos para repetirem o que ouviram. “Eu não acho mais graça nenhuma nesse ruído constante que fazem as falas das pessoas falando, cochichando e reclamando... o que eles querem mesmo é reclamar” (Arnaldo Antunes). Sou tímido, afinal ficar calado algumas vezes é uma virtude. Falar é justo e necessário em momentos oportunos. E isso eu o faço relativamente bem.

A técnica é para ser usada. O que diriam os grandes comunicadores sem a mesma? Mascaras são para serem usadas. Alguém realmente se conhece? Ou conhece-se justamente a máscara mais utilizada? A do bonzinho, do chato, do fortão ou inteligente... etc. Sorrir, é o que mantém a minha armadura. Atrás dessa defesa, no ser humano há feiúra. Rancor.

Eu gosto de coisas que as pessoas não sabem o que são. Por isso não falam. São burras, assim como eu sou com o que elas gostam. Mas as minhas eu aprendi, porque são elas que me fazem. Minha personalidade. O que eu me interesso. Não sei de quando é isso. Mas é assim.

A dor da incompletude humana só se justifica porque a responsabilidade da totalidade de Deus é um fardo que eu não quero jamais carregar. Nossa mediocridade só é viável porque fomos feitos assim. Não escolhemos por isso, embora queiramos virar o olho para a luz refletida na parede.

O que a religião faz para mim, é direcionar-me naquilo que sou, ou naquilo que senti de Deus, o criador. Se estivesse na Índia ou Paquistão, não seria muito diferente. Uma forma de me relacionar com aquilo que conheço tanto. Que é íntimo de mim, e que as vezes, é tão presente em mim.

Sou ridiculamente regal e adorei o trocadilho. Mas também sou Goulart, Ribeiro, da Silva, Pereira e tantos outros..Eu sou todo mundo. E também sou único. Isso me faz divino. Espetacular. Viver é buscar de alguma forma o entendimento disso. Conviver com o improvável. Porém certo.

Sobre o amor, to completamente perdido. Tenho amor, paixão, tesão, carinho e mansidão... Tirando o que recebo como amor materno, não sei quem é quem nesse complexo de sentimentos. A mulher mais linda pra mim é aquela que eu ainda não conheci. Meu amor platônico. Mas é também totalmente mentirosa. Pois não vai existir nunca. Isso eu sei. A mulher mais linda para mim, passa então a ser aquela que estou a cada dia. E mesmo assim não a conheço. Porque eu nunca vou conhecer ninguém. Eu mesmo me procuro e ainda não me achei!

A escolha eu ainda não fiz. Sei que ao fazer eu completo minha covardia. Mas não escolher por si só já não é um ato pobre e vazio? Ficar em cima do muro não é totalmente medíocre? Escolhas – conseqüências. É assim que funciona. Não há certo ou errado. Há caminhos. Então procuro estabelecer o meu de forma correta.

To feliz. Porque posso ficar triste. A humanidade do meu ser me faz ser um ser. Apaixonado e não sei por quê? Por quem? Quando? Estudar? Trabalhar? Esbaldar? Sei lá... Eu tenho que criar coragem. A morte é vindoura e isso me incomoda. Porque cada instante é um alerta para eu me apressar a viver. Não sei como, mas é. Seria realmente covardia? Ou esperteza? Tudo que me programei até agora eu de certa forma eu fiz. Sou um vitorioso. Um iluminado por Deus. Mas quero sentimento e não estou encontrando. O que foi? Porque sinto falta disso? Onde foi parar? Porque tanta sensação incomoda? Será o cansaço?

Quero realmente me encontrar. Mas quem não quer? Alguém já se encontrou? Sabe realmente do Deus que está definitivamente no seu interior? No seu coração? Sinto que Ele está aqui. Que é a minha alegria. O meu milagre da vida. O meu encanto. Vem Senhor... Faz-me viver. Já é tarde e a noite já vem.

Vem.

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