quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O Twitter e a preguiça de ler e escrever

O Twitter e a preguiça de ler e escrever (Por Adriano Goulart)
Diário de bordo número 1 de 02 de setembro de 2009 . Eis-me aqui, cidadão cibernético adrianoagr pronto para tecer minhas considerações sobre o mais novo fenômeno da internet, O twitter. Fenômeno esse que desde ontem também faço parte. Será que fiquei bobo? Torço para que não.
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Pois muito bem, ao criar uma conta nesse mecanismo sinto uma vontade enorme de compartilhar com todos uma reflexão acerca dessa nova rede que para ser bem prático, é para mim mais uma valiosa ferramenta baseada na premissa do sentimento de preguiça que as pessoas tem em ler e escrever. Ou seja, uma rede de blogs para preguiçosos. Entrei nela esperando sinceramente que eu esteja errado.
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Eu explico meu raciocínio: o Twitter é uma rede social, baseada em conceitos e princípios da chamada cibercultura que apresenta ferramentas tecnológicas em formato online e que permite as pessoas se conhecerem e passem a interagir e comunicar-se. Teve seu “boom” na internet há um ano aproximadamente nos Estados Unidos e a partir daí se espalhou pelo mundo. Os internautas não tiveram dificuldades de assimilar essa nova idéia.
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Nova idéia? Na verdade não é bem assim. Os conceitos e as ferramentas utilizadas por esse site já são conhecidos pela maior parte dos usuários já ha algum tempo. Orkut, Facebook, MySpace, blogs em geral já dispunham desses recursos e os colocavam à disposição de seus usuários com maior ou menor intensidade há pelo menos 5 anos.
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Assim, o que o Twitter apresenta como a grande novidade não é a possibilidade de interagir praticamente em tempo real com os outros usuários e nem possibilidades de inserção de informações sobre si ou sobre algo. A grande aposta dessa rede é inserir informações em uma interface parecida com a de um blog de mensagens com tamanho máximo de 140 caracteres no qual as pessoas possam comentar! Mas aprofundando o raciocínio nos parece que tal estratégia apresenta um retrocesso no avanço tecnológico e da internet que cada vez mais tem espaços ilimitados para fluxo e armazenamento de informações.
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A dinâmica desse espaço está justamente na premissa de disponibilizar aos usuários acessos rápidos com informações curtas e práticas sobre seu cotidiano. Curtas mesmo. Como se fossem no celular.
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Na prática, aparecem mini-diálogos ou multi-mini-diálogos sobre temas dos mais diversos, quase sempre de caráter subjetivo mas que expõem claramente o fazer e o pensar das pessoas. Ao acessar o seu perfil, a pergunta “What are you doing?” (O que você está fazendo?) se destaca. A partir daí , tudo que o usuário deve fazer é uma proposição. Apresentar o que se faz no momento, o que se lê, o que se informa e por aí vai...
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Nada de espetacular na proposta a não ser o chamado “marketing viral” que no meu entender se aplica também aos sites. E no caso do Twitter está dando um show. Um usuário conhece algo na internet (vídeo, som, idéia, etc) , se identifica com esse material por alguma razão e transmite a outro , que transmite a um terceiro e assim a novidade se espalha.
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No Brasil, o Twitter praticamente não era conhecido até que os atores globais (da Rede Globo de Televisão) e grandes empresas e instituições (principalmente as de comunicação), inspiradas no modelo americano aderiram a novidade. Uma moda, ou melhor, uma febre foi se criando a medida que artistas das emissoras foram anunciando seus perfis em plena rede nacional de tv. Assim como o orkut, que se popularizou no Brasil há cinco anos, as pessoas desejam estar no Twitter também, mesmo sem saber ao certo o que é. De resto, o sentido que se dá a ferramenta, a usabilidade e a interface e os contatos, a interação que se pretende fica secundária.
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É perfeitamente possível entender o porquê desse fenômeno acontecer. Ou pelo menos acredito que uma das razões para tal avanço dessa rede seja de que a maior parte das pessoas não procuram leitura na internet. Nem conhecimento ou informação consistente. Elas têm preguiça de um texto com mais de 3 parágrafos. De ler e escrever. Tudo que querem é reproduzir um comportamento de massa, também visível na internet através das redes sociais. Isso as conforta.
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Para quê ler um texto na fonte original, com páginas e mais páginas? Conteúdos difíceis e que demandam de certa habilidade anterior para compreender. Entender a dinâmica da internet? De forma alguma! Assim, um texto limitado ao número de caracteres que estou habituado no meu celular é mais que razoável.
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Claro que também há nesse espaço profissionais e pessoas que apresentam um melhor conteúdo e utilizam-se desse recurso com outro foco de disseminação de suas abordagens e pensamentos. Referenciam suas idéias e produção vinculando-as a outros ambientes da internet. Ou sugerem um debate frente a assuntos polêmicos ou reflexões de caráter mais global. Porém, a maioria quer apenas receber bugigangas informativas. O sentido de pertença a uma rede fala mais alto. Status cibernético, mesmo que de forma passiva e incapaz.
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O Twitter vai durar muito tempo? Acredito que não. Baseado na dinâmica da web 2.0, em que tecnologias e idéias as vezes nem tão novas, mas apenas remoldadas são apresentadas ao grande público numa velocidade vertiginosa e as antigas são simplesmente esquecidas, vejo no Twitter uma vida útil de 8 anos no máximo. O que para a internet já seria uma eternidade.
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Para terminar, ao tentar deixar de lado o preconceito que assumo ter diante da nova ferramenta, pois seu caráter prático oculta um propósito alienante aos seus usuários, reduzindo-os apenas em receptores de informação e produtores de uma minúscula parcela de conteúdo consistente, pois os diálogos banais são comuns nesse espaço, vejo em caráter comercial, institucional ou jornalistico algumas qualidades em inserir-se nessa rede. Os mecanismos de comunicação por exemplo, já perceberam esse filão. A maioria das emissoras brasileiras e seus respectivos ícones já tem seu perfil no Twitter. As Informações mastigadas e não críticas disponibilizadas aos seus usuários fazem parte desse cenário já há algum tempo.
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Já do ponto de vista pessoal talvez haja uma oportunidade mínima de interação e comunicação com os outros. E é esse o meu propósito nessa rede. Sem muitas aspirações, mas como bom navegador cibernético que procuro ser, uma oportunidade de conhecer as pessoas através dessa nova vida virtual.
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Por hora, fim da transmissão...

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